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Cepa Torta

Bilhete Postal

E se depois de votar, se depois de escolher novo, enjeitar o passado, pedir reforma absoluta viesse a cepa torta? Ver regressar a maralha sem projeto, sem visão, sem qualquer proposta, sem ideias além das suas verborreias e loucuras? Ver chegar a Zefa do Carriço, o Zé Barbeiro e o filho, a Micas do Gaspar, o Tone marceneiro, sempre eles e suas idiossincrasias, suas retóricas de caserna dos Açores ou albergue de Lisboa. Eles com seus trejeitos, mas primos entre si, amigos do peito, todos de regresso à fantochada, ao circo da desonestidade, à perseguição de quem trabalha, ao empurrão de quem os critica, às certezas únicas e apenas das suas cabeças. A cepa torta é luz de um modo de viver, de uma maneira de estar, de uma não exigência, de uma falta de critérios uniformes, de uma escalada de truques, de habilidades sinuosas, de uma preguiça que tem sempre uns a trabalhar e outros sentados. A cepa torta está dentro dos genes que acordam no poder, transmutam as pessoas e levam ao desengano. Claro que agora temos um problema: estamos com pouca paciência para mais falhas, mais descrença. Resta pouca capacidade de ouvir aldrabões, vendedores de banha de cobra. Queremos números sérios, honestos, totais. Queremos perceber onde tudo isto falhou. A cepa torta pode trazer a violência, o desespero e é neste degrau que os vencedores se encontram. Há pouca margem para uma cepa torta. A fronteira da violência é já ao virar da esquina, onde alguém perdeu tudo, alguém sem salário, sem subsídios, sem casa, sem carro, sem esperança, carregado de desesperança trás a morte nas mãos.

Por: Diogo Cabrita

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