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Centenas de alunos e professores comemoram os 150 anos do antigo Liceu Nacional da Guarda

Tradições académicas da Guarda valeram-lhe o epíteto de ‘little’ Coimbra

Vital Moreira é um privilegiado. Em 1955 assistiu, como aluno, às comemorações do centenário do então Liceu Nacional da Guarda, mas regressou no sábado à cidade mais alta como orador principal da cerimónia que assinalou os 150 anos da instituição. «É uma coincidência extraordinária, porque eu também vou comemorar em Setembro os 50 anos da minha chegada ao liceu», exclamou.

O professor universitário foi um dos muitos ex-alunos, professores e funcionários que assinalaram a efeméride na Secundária Afonso de Albuquerque, escola que lhe sucedeu no final da década de 70. Entre 1855 e 1978, por ali passaram alunos como o republicano Afonso Costa, o poeta Augusto Gil, o aviador Sacadura Cabral e mais tarde o romancista Vergílio Ferreira, entre muitos outros. Vital Moreira evocou esse passado glorioso e recordou o «lugar excepcional de socialização» que foi o liceu. Lembrou colegas como Marília e João Raimundo ou Abílio Curto e classificou a sua vinda da Bairrada para a Guarda, em 1955, como «copernicana»: «O que eu conhecia até aí era o plano, entre o mar e o Buçaco. Eu nunca tinha visto um penedo e muito menos o granito», adianta. Mas na Guarda veio encontrar uma «espécie de ‘little’ Coimbra», onde dominavam as tradições e o espírito académico. «Nós replicávamos Coimbra com aplicação e isso porque o liceu era pensado como a pré-universidade», refere, sustentando que o Estado Novo fez dos liceus «um mecanismo de pura reprodução da elite social», enquanto as escolas industriais formavam os técnicos.

O salão da Afonso de Albuquerque foi ainda o palco de vários reencontros e muitas homenagens. Primeiro os melhores alunos deste ano lectivo, depois a professora e o aluno mais antigos do liceu ainda vivos, Maria Fernanda Martins das Neves, de 95 anos, e Hipólito Dias de Almeida, 93 anos.

Este último entrou em 1925 e não tem muito boas recordações desse tempo: «Aquilo não tinha condições absolutamente nenhumas, estávamos num barracão coberto de zinco. Estive lá dois anos e depois mudámos para o edifício do antigo convento de Santa Clara», conta. O antigo professor primário considera que o ensino não está «tão mal como dizem», nem os actuais alunos são piores que os de antigamente, «embora no meu tempo se estudasse um bocadinho com a régua na mão e havia silêncio, enquanto que agora abusa-se muito», admite.

A sessão contou igualmente com a presença dos secretários de Estado da Indústria e Inovação, Castro Guerra, também ele antigo aluno, e da Educação. Valter Lemos apelou ao fim do «discurso negativista» sobre a escola em Portugal e anunciou que o Governo está a preparar o alargamento das alternativas de formação para os jovens do secundário. «É fundamental conseguir que os nossos jovens atinjam níveis mais elevados de escolaridade», sustentou, após lembrar que 24 por cento dos alunos portugueses abandonam a escola no 9.º ano, enquanto cerca de 50 por cento não terminam o secundário.

Luis Martins

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