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Cem anos de vida

Maria dos Anjos festejou o seu centésimo aniversário na passada terça-feira

Maria dos Anjos apagou 100 velas na passada terça-feira. Nasceu na Guarda no dia 14 de Março de 1906. Uma vida cheia de memórias e repleta de boas recordações. Uma alimentação simples e os mimos da família parecem ser o segredo para tantos anos de vida.

«Graças a Deus, que cheguei a esta idade», diz com vivacidade a aniversariante, que nunca imaginou completar 100 anos. «Nem sei se não serei a primeira por estas redondezas, mas não pareço, pois não?», diz com vaidade e um sorriso matreiro Maria dos Anjos, enquanto se vê embevecida na fotografia acabada de tirar. «Lídia, José, António, são os meus filhos, depois o Tózinho, Gracinha, Jorge, Cristina, João, Joãozinha que são os meus netos, e ainda a Raquel, Guidinha, Manuel, Carolina, Zé Tó, João Pedro, Rodrigo, Duarte, que já são os bisnetos», diz de cor e salteado, sem falhas na memória, e por ordem crescente. E também sabe as datas de aniversário de todos eles. Nasceu e cresceu na Guarda-Gare, junto ao que é hoje o Mercado de São Miguel, ainda lá está a sua casa, a única de pedra numa esquina, rodeada de prédios. «Nunca sai daqui, só para passear», garante. Agora, vive na casa da filha, mas também nos mesmos terrenos, onde outrora tratou do jardim e da horta, «gostava muito de lavar a roupa no tanque, aqui mesmo ao lado», aponta Maria dos Anjos, que também sempre gostou de cuidar das plantas e das flores. Trabalhou sempre em casa, entretinha-se entre as lides domésticas e a educação dos filhos, «nunca fui mandriona, estava sempre a trabalhar», recorda. Ainda se lembra da «D. Albertina», a sua única professora: «Andei na escola primária do rio Diz, acho que ainda lá está o edifício», espera. «Lá, aprendi o pouco que sei», regozija-se, «tinha que lá estar às 9 horas, e lá ia a pé todos os dias», acrescenta.

Lembra-se da Guarda de antigamente, dos principais monumentos e recorda-se de um edifício muito especial: o Cine-Teatro. Ainda «lá fui uma vez, ver uma peça de teatro!», conta Maria dos Anjos, que não gosta de cinema. Também gostava muito de fazer rendas. Hoje, prefere ver televisão, «sempre ajuda a passar o tempo», justifica. Agora passa os dias a rezar o terço, «porque sou devota», frisa. Mas ainda arruma as suas coisas, faz a cama, e «se mais não faço é por causa das dores dos ossos, porque vontade não me falta», assegura a centenária, que vai para todo o lado apoiada na sua bengala, para não enferrujar as pernas. Se não fosse a osteoporose e algumas dores de barriga, podia-se dizer que tinha uma saúde de ferro, «sinto-me bem, até tenho menos rugas do que a minha filha», graceja Maria dos Anjos. O segredo da sua longevidade não desvenda, mas vai tendo muito cuidado com a alimentação, come pouca carne, e peixe, só bacalhau e sardinha, mas tudo à base de cozidos e grelhados. Apesar de hoje em dia ser um pouco mais gulosa, «às vezes como uns chocolates que os meus netos me trazem», confessa. Enviuvou há seis anos, mas ainda comemorou 75 anos de casado, «o meu marido era meu primo, antigamente podia ser assim», sussurra Maria dos Anjos. Para o seu aniversário não queria receber prendas, «não me falta nada, felizmente, sou muito mimada pelos meus familiares!», congratula-se a privilegiada centenária.

Patrícia Correia

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