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Cavaterra à procura dos homens-toupeira

Companhia Circolando estreia amanhã espectáculo no Teatro Viriato

Minas de hulha, chumbo, zinco e ferro. Cavaterra avança por esta paisagem dentro no mais recente espectáculo da companhia Circolando, em cena de hoje a sábado no Teatro Viriato, em Viseu. É parte integrante do projecto alargado “Ciclo das Minas”, um projecto que encontra e revela os mineiros, percorrendo o seu caminho de terra, no meio da terra e nuvens de terra, tratando-se de um espectáculo de sala que mergulha no escuro da mina à procura das histórias, dos sonhos, das loucuras das suas gentes. Representa também o trabalho árduo, realizado nas entranhas da terra, através de teatro físico, manipulação de objectos e marionetas.

Três actos e três cores (preto, castanho, vermelho) celebram as vidas dos mineiros, homens-toupeira, palhaços duros, exaustos, curvados e deformados. O preto representa o percurso de sensações pela terra dentro, enquanto o castanho significa as rotinas dos trabalhos escavados, num momento coloridas pelo brilho do minério, noutro amalgamadas pelo desmoronar de terras e o vermelho designa o drama da morte e o louvor da vida. São estas as cores que pintam as terras esquecidas e arruinadas que são as minas abandonadas e que a companhia Circolando, cooperativa cultural criada em 1999, se propõe retratar como lugares da desfiguração dos corpos e da exaustão num trabalho sem fim. Consumidos pela repetição crónica de movimentos, os homens cedem à pressão da sua forma, moldando-se aos objectos que se lhes impõem (picareta, pá, maço, corda, escada…). Cavaterra é o resultado de uma investigação aturada sobre as minas e a profissão de mineiro, reunindo histórias de vida, memórias de quotidianos, descrições de episódios e experiências, para o desvendar de crenças e imaginários e a descoberta de espaços, cores, sonoridades, matérias e objectos. Para tal, os responsáveis visitaram complexos mineiros de Norte a Sul do país, nomeadamente Cunha Baixa, Panasqueira, Aljustrel e São Domingos.

Recolhido este material, procederam-se depois a improvisações corporais e experimentações plásticas na construção de objectos de cena e marionetas, mas também à escrita dramatúrgica e à construção de personagens. Cavaterra é uma criação colectiva, sob direcção e encenação de André Braga e dramaturgia de Cláudia Figueiredo, que assenta na reinvenção da linguagem circense, através do rico cruzamento do circo, dança, música e construção plástica, privilegiando as linguagens visual, emotiva e sensorial. André Braga, João Calixto e João Vladimiro dão vida a estas personagens num cenário criado por João Calixto (direcção plástica) e Alfredo Teixeira (música original). Os bilhetes custam dez euros e estão sujeitos aos habituais descontos.

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