Deu-se finalmente o julgamento mais caricato da praça guardense recheado de minudências e trivialidades.
Partidariamente não se explorou propositadamente a questão. Quiçá um erro face ao grau de responsabilidade político – autárquica dos contendores. Pelo menos esse pretexto não houve para mais grãos na engrenagem e a “novela” desenvolveu-se em episódios aqui e ali apresentados nos órgãos de comunicação social.
Triste sina a dos nossos governantes locais que vão prestar contas acusando todo o mundo para justificar o colossal aumento do passivo municipal – face ao binómio custo/ beneficio – a inanição da vida urbana, ao cruzar de braços constante numa postura caldeada com um autismo cultural que nos convoca e tempos fúnebres por eles mesmo também apresentados noutras circunstâncias.
Mas aquele julgamento é paradigmático por nele se revelarem os mais “engraçados” quatro anos de um governo municipal guardense quando atentamos em factos concretos, como por exemplo, a PLIE, as suspeitas veiculadas em relação a algumas situações, à perda vertiginosa de capacidade de decisão e mesmo de liderança de vários serviços desconcentrados, a uma colagem baboseira e excessiva ao poder central e a última a que se refere à apresentação das conclusões da “comissão de análise às obras da autoria do então engº técnico José Sócrates”.
Em tão pouco tempo ficou mais espelhado o que têm sido 30 e tal anos de governo ultra-mono-color.
Por isso o julgamento espelha bem o que foram 4 anos sem pouco mais de nada que fazer e conseguiu-se, ainda assim, dar trabalho aos magistrados e advogados que “raparam” frio no remodelado tribunal da Guarda. É obra !!
Quente, quente só pode ser a novidade do concurso para a ampliação do hospital… afinal desde 93/94 que os socialistas prometem outra coisa mas contentamo-nos com o que nos reservam em fim de mandato, findo este curto hiato de tempo…em que nem as grandes maiorias locais e nacionais foram suficientes para tudo ficar pronto previamente.
Bem podem todos os profissionais do Parque da Saúde continuar a aguardar por melhorias constantes nos velhinhos pavilhões e ainda assistirem a mudanças substantivas na organização dos serviços de saúde que junto com outras apenas vão mostrando alguma falência do D de desenvolvimento do 25/04/74; menos vontade em estar, em ficar, e absoluta incerteza no que concerne ao vir, ao fixar-se…
A saúde, a educação e a justiça são áreas nevrálgicas de uma qualquer democracia e nem a modernidade tecnológica sustenta a leviandade com que supostas reformas e reformas pretendem acantonar-nos numa reserva em nome de quê e para quê?
Remato esta questão com o exemplo escutado numa conversa de colegas em que foi afirmada a intervenção de um dirigente político nomeado noutro distrito do interior clamando por medidas excepcionais a propósito da eventual saída dessa terra de centenas de docentes com vida feita desde recuados anos nessa terra.
A resposta do seu camarada de governo foi rápida e impressiva: não há excepções… e sem excepção continuamos, por cá, olímpicamente a olhar de soslaio para a crise social que vai agudizar – e não apenas o desemprego já de si gravíssimo – sem que haja respostas das instituições, sem que haja uma concertação de políticas activas e sectoriais entre todos com particular responsabilidade para o poder local municipal.
É preciso um valente murro na mesa. O mesmo é dizer que temos de saber diagnosticar, engendrar respostas, compreender-lhe a dimensão financeira e depois exigir – com novas fórmulas de reclamação – junto ao poder central.
Outra olímpica forma de desprezo, ainda a propósito de desemprego, foi a publicação recente de um despacho legal em que se transfere do estado central a responsabilidade do pagamento de 20 % sob o subsídio de desemprego para as entidades que se candidatem aos programas ocupacionais. Uns dirão que é justo e racional que assim seja mas a efectiva consequência vai ser um maior número de pessoas na rua sem nada que fazer e com maiores dificuldades de inserção profissional e mesmo social.
Afinal temos qualidade de vida, qualidade ambiental, bons equipamentos culturais e desportivos no distrito, oferta razoável económica e industrial e ainda assim não é suficiente para o estado central olhar de forma diversa da que verificamos.
Se é certo que a dimensão concelhia não potencia – apesar da votação sempre no mesmo sentido e ultimamente convergente – um maior pendor de exigência contínua para as nossas necessidades junto de quem nos governa e outras razões haverão seguramente para ser assim, certíssimo é também se dissermos que outras dimensões concelhias têm conseguido melhores resultados mesmo independentemente das colorações partidárias.
É uma linha de reflexão que me parece ser necessária num tempo político marcado pela apresentação de candidatos e, com eles, opções político-programáticas.
Que a Guarda possa ainda acreditar-se e creditar-se é um desejo elementar para um concelho que ainda é, por enquanto, a capital do distrito.
Acreditar-se porquanto as cidadãs e os cidadãos não podem resignar-se à lógica aparelhística que nos tem governado localmente substituindo-se muitas vezes durante o mandato à lógica normal partidária preocupando-se, tão só, em manter o que entretanto se conquistou.
Outros, no exercício do governo, tentam “arejar” e nesse “arejo” ousam desafiar conquistando por essa via novos aderentes. A opção de cada um vai residir nesta escolha.
Creditar-se realmente perante o distrito significa ser capaz de congregar vontades, apontar metas e desafios que assumidos pelo maior número e pessoas mais facilmente serão protagonizados por quem de direito junto de quem tem o efectivo poder de decisão.
Aqui não é de opção nem de escolha partidária que falo antes o querer e a capacidade de conferirmos dignidade maior à categoria humana a que pertencemos.
Nota final
Diplomaticamente, foi ruidosamente aceite não ser aceitável comentar-se partidariamente o caso Freeport.
Verdadeiramente não se teria passado este ruidoso silêncio se a “inversa” fosse acontecida. Recentemente pudemos verificar tal facto aqui na Guarda.
A Justiça parcimoniosamente parece distribuir processos à esquerda e à direita…
Honestamente não é nada confortável saber o 1º Ministro envolvido neste suposto tráfego de influências bem como outros cidadãos que já foram centros de decisão importantes no governo luso. Não será confortável para os visados e, se inocentes pior ainda, mas para toda a população só pode ser motivo de chacota, desconfiança e descrédito.
A lógica da campanha negra, nunca descrita apenas proclamada, a surreal comparação – compreende-se a intenção e a pobreza mental que teima em dominar-nos – com o caso Sá Carneiro protagonizado por quem é pago para prestar o seu serviço jurídico e outras cretinices verbais transformam o leigo cidadão com uma menor propensão para acreditar que ainda exista, neste debate, a natural conflitualidade democrática mas antes a sua antípoda que provoca a total descrença em tudo e todos que mexam na “coisa pública”.
Assim o menos bom tempo que provamos dificilmente poderá ter o tempo necessário para ser um bom conselheiro.
Por: João Prata *
* presidente da concelhia da Guarda do PSD