A Casa Cisterna, monumento localizado nas traseiras da Câmara da Covilhã e classificado como Imóvel de Interesse Público, poderá ser transformada ainda este ano num edifício destinado a habitação e ao comércio, caso o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) aprove o projecto apresentado pelo proprietário. António Moreira aguarda apenas pela autorização desta entidade e da autarquia local para poder recomeçar as obras de reconstrução do edifício, paradas há um ano por causa de demolições da fachada sem o devido acompanhamento de técnicos especializados.
O objectivo é fazer nascer naquele monumento do século XV cinco apartamentos T0 ou T1 para estudantes e uma taberna típica, à semelhança das que existem nos centros históricos de Lisboa, Porto ou Coimbra, sendo certo que será algo «invulgar» e «diferente», garante o proprietário. Para António Moreira, esta será também uma forma de revitalizar a zona velha da cidade, que está há muito «morta» e «sem movimento» nocturno. A iluminação da cisterna, que poderá ser envidraçada, e um maior cuidado com o jardim anexo estão também na mente de António Moreira, que estima gastar ali «mais de 40 mil contos». Contudo, o projecto para a reconstrução da casa ainda se encontra em «processo de apreciação» no IPPAR por existirem algumas «dúvidas» de «cariz estético», explica José Afonso, director da delegação regional de Castelo Branco daquela entidade de protecção do património, sem, no entanto, entrar em mais pormenores. «Na próxima semana vamos dar conhecimento do projecto ao presidente do IPPAR», pelo que a decisão sobre a sua viabilidade deverá ser conhecida muito em breve, acrescenta.
Dúvidas que, segundo apurou “O Interior”, ficarão a dever-se à parte superior da casa e a uma janela que foi excluída pelo proprietário no novo projecto. «A janela não tem nada a ver com o original. Foi aberta em 1955 para dar claridade à agência funerária que ali existia», recorda António Moreira, acreditando que desta vez não haverá problemas. «Penso que [os técnicos do IPPAR] chegaram à conclusão que essa janela não faz parte da traça original da casa», justifica o proprietário, que já viu o projecto recusado por duas vezes por aquela entidade. Entretanto, as ruínas do edifício – resguardadas por uma cerca de madeira – persistem em degradar urbanisticamente aquela zona há um ano. «É uma vergonha para a cidade e envergonho-me pessoalmente de como as coisas estão», confessa António Moreira, cuja “culpa” foi não se ter apercebido que mesmo com a autorização do IPPAR «não podia ter mexido na casa» sem o acompanhamento daquele organismo. Apesar de reconhecer essa falha, o proprietário da Casa Cisterna “aponta o dedo” à actuação e acompanhamento do IPPAR: «Os arquitectos deviam visitar o local e aconselhar os proprietários que querem reconstruir no centro histórico. Só dão explicações quando cortam os projectos», acusa. Para este empresário, o constante «emperrar» de obras apenas retira a vontade de reconstruir as casas degradadas no centro histórico. «Por isso é que está tudo a cair», adianta, considerando ser mais fácil comprar um terreno do que recuperar uma casa antiga naquela zona. «Para além de termos que pagar aos técnicos do IPPAR para acompanharem as obras, ainda retiramos poucas vantagens desses trabalhos», lamenta António Moreira.
Liliana Correia