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Carta ao primeiro-ministro

Entrementes

Exmo. Senhor Pedro Passos Coelho

Perdoará V. Exa. a ousadia de lhe escrever assim, publicamente. Poderia tê-lo feito em privado mas, como no anúncio televisivo, “poder podia, mas não era a mesma coisa…”. Temos então que esta é uma missiva pública para um titular de cargo público de grande responsabilidade nesta espécie de ainda país que continua a ser gerido por uma espécie de classe política.

Compreenderá V. Exa. que qualquer declaração que faça será devidamente escalpelizada pelos seus concidadãos, esses mesmos que com o seu voto (que não o meu…) o alcandoraram a tão alto cargo. Compreenderá, pois, que a um primeiro-ministro não se perdoem declarações como aquelas que, há uns dias, proferiu incentivando os professores a emigrar. Ou seria melhor dizer, na linguagem popular, a dar às de vila-diogo enquanto ainda é tempo?… Isto depois de um secretário de Estado do seu governo ter aconselhado os jovens a pirarem-se daqui para fora… Situações que não indiciam nada de bom no que toca ao governo, ou desgoverno, desta horta à beira-mar plantada. Senão vejamos:

Então, se os jovens partirem por essas terras de Cristo, quem assegurará a regeneração demográfica do nosso cantinho? Se eles partirem quem assegurará, com impostos, a reforma daqueles que bem a souberam merecer após uma vida inteira de trabalho? Ou mandaremos vir, para remediar a coisa, uns contentores de reformados endinheirados dos países nórdicos?…

E se, depois dos jovens, partirem também os professores, quem preparará as futuras gerações? Ou será que, só para não termos de os, digamos, aturar cá no sítio, recambiamo-los para um qualquer PALOP, dotamo-los de novíssima tecnologia, assim a modos que de uns Magalhães, e eles começam a dar aulas por videoconferência?… Sempre seriam uns trocos poupados para depois poderem ir engordar a banca da senhora Merkel que, como V. Exa. bem sabe, representa o verdadeiro paradigma da solidariedade e fraternidade entre os povos.

Claro que se acrescentarmos a estes aspetos mais o do investimento que foi feito na formação dos jovens em geral e também na dos professores, então dir-se-ia que estamos a deitar dinheiro fora e a exportar massa cinzenta sem a qual não há nação que resista.

Mas, no meio de tudo isto, espantou-me o espírito altruísta de V. Exa. ou, se não foi altruísmo, então foram declarações um tanto a quente, sem medir as consequências. É que, por redução ao absurdo, se todos emigrássemos, quem elegeria V. Exa. e outros governantes para tão patrióticos cargos? Ou estará V. Exa. a pensar emigrar também? Se está, faça-o rapidamente enquanto ainda há país…

Mas não, afinal V. Exa. não vai emigrar e descobriu já a cura para os males que nos afligem nos tempos que correm e naqueles que hão-de vir. Pelo menos é o que se depreende daquela empolgante, encorajante, entusiasmante, agregadora, mensagem de Natal quando anuncia para 2012 a «democratização da economia portuguesa». E já agora, senhor primeiro-ministro, sempre ouso perguntar-lhe: pode V. Exa. traduzir isso para português de lei? É que tenho para mim que não terei sido o único a ficar de cara à banda à procura do significado de tão rebuscada expressão…

Vai longa a missiva e os tempos são de poupança pelo que, senhor primeiro-ministro, me despeço até a próxima ocasião em que me sinta desrespeitado pelas afirmações do chefe do executivo do meu país.

Fica prometido.

Por: Norberto Gonçalves

Comentários dos nossos leitores
Carlos Pardal acfpcruz@gmail.com
Comentário:
Só faltou convidar o Sr.Coelho a emigrar. Era um grande favor que ele fazia ao país
 

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