Sr. primeiro- ministro e presidente do PSD
Quando o senhor se candidatou ao cargo que agora ocupa, representou uma enorme esperança para muitos portugueses. (…) Em relação ao aumento de impostos, o então candidato a primeiro-ministro afirmava ser contra e dizia mesmo que os portugueses não aguentavam mais austeridade (…) E quando questionado sobre a eliminação dos subsídios de férias e de Natal, afirmou taxativamente que a ideia era um disparate (…)
Sei bem que os efeitos da anterior governação foram completamente desastrosos, mas perdoe-me, eu não aceito que se rasgue o programa eleitoral com base na pesada herança que foi recebida. Acaso não sabia ao que ia? (…) Se não sabia, peço-lhe desculpa mas revela uma total e confrangedora impreparação para tal cargo, se sabia…então ludibriou de forma descarada os portugueses. (…)
Já vai sendo habitual ver os responsáveis governamentais deste país fazer tábua rasa daquilo que foi “contratualizado” com os eleitores, mas confesso e por isso votei em si, que acreditei que consigo fosse diferente. (…)
O candidato Pedro Passos Coelho afirmava que havia que cortar nas “gorduras” do estado. Pensava eu que se referia a cortes radicais ou mesmo eliminação das despesas de representação dos políticos, por exemplo. Até aí estávamos de acordo. Só não sabia que (…) se estava a referir, entre outras, à tomada de medidas absolutamente gravosas na Educação.
É devido às medidas desastrosas que têm sido tomadas na área da Educação, que, pela primeira vez, me encontro desempregado. E desde já lhe digo que não comungo da sua ideia em relação a este problema. Para mim o desemprego não é uma oportunidade, mas antes uma fatalidade, uma vez que tenho uma família e uma casa para sustentar.
Sr. primeiro- ministro, eu quero trabalhar! (…) Quero dar aulas como sempre dei desde que terminei a minha licenciatura, mas graças a uma revisão curricular absurda e que não consta do programa eleitoral (…) não posso. Para quê andei eu a investir na minha formação fazendo mestrado e doutoramento se deixou de haver lugar para mim, porque o Ministro da Educação considera que o ensino da Música é algo de supérfluo? (…)
No tempo próprio, enviei um email com questões e sugestões sobre a reforma curricular para o endereço que foi disponibilizado pelo Ministério da Educação para esse efeito, bem como para todos os partidos com assento na Assembleia da República. Todos tiveram a gentileza de me responder, excetuando o grupo parlamentar do partido a que preside.
Concluo assim que não faz qualquer sentido continuar com a minha militância no PSD (…). Lamento profundamente que o partido a que pertenci e defendi durante tantos anos, se tenha desviado tanto daquilo que me fez querer a ele pertencer. (…)
Luís Miguel Fernandes Gaspar Dâmaso (ex-militante 92319), Covilhã, carta recebida por email