Os meus melhores cumprimentos.
O Centro de Estudos Ibéricos (CEI) anunciou um ciclo de jornadas subordinado ao tema “Escola – Problemas e Desafios”. A iniciativa, a começar já amanhã (17-III-06), terminará a 20-X.
Visto que Maria de Lurdes Rodrigues, a Ministra da Educação, usará da palavra no primeiro dia é adequado dizer algo – tanto mais que não poderei estar presente – sobre problemas que a todos tocam, a fortiori a professores.
O estado em que a Educação se encontra tem como primeiras responsáveis as sucessivas personalidades que têm ocupado a pasta. Doutro modo: é incontestável que as anunciadas reformas têm levado a uma degradação. O Ministério, pura e simplesmente, não sabe – e não tem sabido – que fazer.
Aulas de substituição? – Absolutamente. Lutar contra o indevido absentismo dos docentes? – Absolutamente. Uma vera reforma é infinitamente mais que isso. Mais. Só chegará a bom porto se houver uma empatia Ministro-Ministério, por um lado, professores, por outro. Neste preciso momento estamos nos antípodas da empatia. O grande responsável é o psicologismo braquicéfalo? O rosto é eloquente a esse respeito; e é forçoso declarar que há um apriorístico pressuposto: a inteligência sensível.
O Ministério tem que ser ocupado por quem, mais que de História de Portugal, tenha os mais elevados horizontes para dominar a idiossincrasia portuguesa. Tem que ser capaz de fixar um ponto de partida e estabelecer uma rota da qual não se desvie – nem um mícron. Tem que não se deixar impressionar por exemplos alienígenas, venham da Irlanda, da Finlândia, do Bangladesh, do Nepal… Tem que ser capaz de afirmar a preeminência do esforço, porque sem esforço não pode haver mérito – e sem mérito não pode haver educação.
É chocante, no Ministério da Educção, a distância entre ele e o mundo que, por essência, devia dirigir como regente de orquestra. Mais chocante ainda, desculpas pela repetição, é o facto de afirmar o confronto – e a afirmá-lo de modo sempre ostensivo e, não raro, baixo.
Não acredito que à Senhora Ministra – que seja Professora universitária só a põe mais em xeque – nunca ninguém tenha ensinado que todo o pensamento negativo se deve eliminar.
Que alguém que passe por ser oráculo neste País dê 14 à Sr.ª Ministra postula, desde logo, que se afirme que de tal Senhor nunca ninguém falou como especialista de Educação. O patêgo pode ficar impressionado, o (a) político (a) pode sentir-se lisonjeado (a). Sucede é que os próprios alunos admitem que não estudam. É assim porque bem sentem que, no Ministério, reina um “pensamento débil”.
O DN de 10-III transacto, num estupendo artigo da autoria de uma sabedora professora, dizia que a nova disciplina de Cidadania e Mundo Actual, integrada nos Cursos de Educação e Formação, é, tal qual se apresenta, no fundo, um escândalo. Exara inclusivamente: «inutilidade e insensatez de algumas partes da matéria» e «negligência na escrita».
O manual de História das Artes do 11.º Ano saíu para o mercado; e o programa só foi homologado vários meses mais tarde. Resultado: a “matéria” era tão extensa que nunca conseguia dar-se até ao fim. Agora não é só esse problema que se põe.
Um dos génios maiores da Humanidade – nosso –, António Damásio, disse há dias em Lisboa, quando da conferência sobre Educação Artística promovida pela UNESCO: «o sistema educativo actual, baseado nas ciências e na matemática, está desactualizado, pois ‘aprofunda as doenças sociais e não produz indivíduos capazes’». «A matemática e a ciência não fazem cidadãos» (DN, 7-III-06).
Para quando a prioridade ao Humanismo – por que sempre me tenho batido? O que havia a acrescentar é infinito. Mas não há espaço.
Apenas duas notas mais: o formidável investimento de Bismarque no ensino técnico também alcandorou a Alemanha a… duas inenarráveis derrotas. Mesmo que eu ame muito os meus VW e jamais pense mudar de marca.
Fim: estimar ao máximo os professores e facultar formação aos que ainda não a têm.
A minha reiteração do melhor, Ex.ª Senhora.
Guarda, 13-III-06
Por: J. A. Alves Ambrósio