Arquivo

Caninos cetáceos autoritários

Observatório de Ornitorrincos

Nas últimas semanas de ausência desta coluna, o país sofreu com três eminentes desgraças relacionadas com o mundo animal: cães raivosos, baleias azuis e fascistas franceses.

Para lidar com estas ameaças, li e ouvi quase sempre as mesmas soluções. Proibir, amordaçar e pôr uma trela. O povo esquece depressa e não lembra mais de como começam estes flagelos. O que têm em comum cães ferozes, fascistas fanáticos e adolescentes inseguros? Todos gostam de obedecer à voz do dono. Por isso, os donos, líderes e moderadores de cães fanáticos, fascistas inseguros e adolescentes ferozes é que precisam de açaime, mesmo que em alguns casos o açaime venha disfarçado de banqueiro ou de paizinhos. Para os leitores que já olham para o Observatório de Ornitorrincos como o novo Index, clarifico: o açaime, as eleições ou o controlo parental da internet não são para impedir ninguém de ladrar, são apenas para evitar que nos ferrem o dente.

As consequências terríveis de um ataque de cães inseguros, fascistas ferozes e adolescentes fanáticos podem ser acauteladas, mas nunca inteiramente precavidas. Porque há sempre um cão azul, uma baleia francesa ou um fascista raivoso prontos a atacar quando menos se espera. Mas é bom que os cães franceses, as baleias raivosas e os fascistas azuis continuem a ladrar, a twittar ou a gritar slogans (perdoem-me o duplo pleonasmo.) Pelo menos saberemos de onde vem o som. E que, sem baixar a guarda, temos de continuar a sair à rua, proteger as canelas do autoritarismo dos cães e a democracia das mordidelas dos fascistas. E os adolescentes? É um problema que lhes passa com a idade.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

Sobre o autor

Leave a Reply