Com o laranjal esfregando as mãos no terreiro público, onde a festilândia é constante, os deuses encarregaram as malévolas Erínias de abrirem a arca de todos os males, trazendo consigo um espetáculo onde se mistura o ódio e o desdém, o sujo e o nojento, a falta de estratégia, credibilidade e qualidade, numa quintarola descorada de um rosáceo esquisito em tudo idêntica à do curral de moinas. Séneca dizia: «Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável».
Neste constante desnorte, em que todos os fantasmas teimam em aparecer, os adversários são os outros, enquanto os verdadeiros inimigos são decididamente os velhos “compagnons de route”. Mas isto pode mudar, lá isso pode, pois candidatos não faltam e há-os às carradas.
O exercício que se segue tem, única e exclusivamente, por objetivo contribuir para a escolha daquele ou daquela que irá defrontar o poder instituído. Como o escaparate é variado e multifacetado, tomei a liberdade de começar pela estrondosa Barbie.
Boneca bonita com linguagem de meter as pessoas no coração, tipo glico-doce extra light, nota-se no seu comportamento grande desenvoltura e ambição. Aparece em vários modelos, rosados, alaranjados, vestida a rigor, traje de cerimónia, de dona de casa, de chorona, conferencista, ex-presidente, presidente, gestora, médica, diretora clinica, enfermeira, vogal, sem que para tal se lhe note o jeito, e que, ao primeiro tombo pode ficar toda torcida, partida e estafada, pois só de olhar para ela, mesmo com todos os predicados, fica-nos a sensação de ter pés de farelo.
De seguida temos o Action Man, tipo dinâmico, capaz de ultrapassar obstáculos, de organizar, de ser destemido, tal qual o nome indica, mas que cai, demonstrando que sendo um homem de ação, tem as suas fraquezas, evidenciando que se trata de um autêntico ídolo de pés de barro.
E depois há o Furby, rapaz complexo, exemplo vivo da sociedade mediática onde os gestos, o comportamento e a simpatia fazem dele um verdadeiro artista da rádio. As pessoas falam e ele responde, canta, pede para comer, dormir e aprende, parecendo mesmo o irmão mais novo do velhinho tamagoshi. No entanto a sua linguagem é o furbish. Uma linguagem nova num bicho novo. Se for escolhido, o Furby, com todo aquele estilo de quem pensa saber presidir, estou ciente que mudará de linguagem e em vez de dizer “procuro tacho” sempre dirá “sou eu o indicado, o mais qualificado e não preciso disto”.
O Homem-Aranha é outro selecionado. Este super-herói é um caso de sucesso comercial. Criado pela tia May e o tio Ben, tem força que chegue e agilidade suficiente para conseguir aderir a múltiplas superfícies quando, com o seu sentido de aranha, faz disparar através dos punhos teias onde muitos se querem colar.
O Batman, por sua vez, tem identidade secreta, atua nesta cidade fictícia, sempre ajudado pelo mordomo Pennyworth e o comissário Gordon, baseando toda a sua técnica no saber do morcego.
E depois temos o Noddy feito à medida, nesta urbe de brinquedos, tendo apenas por missão acenar e abanar a cabeça, o que o torna no político da situação, satisfatoriamente, no caminho do politicamente correto.
Nesta panóplia de candidatos contemos ainda com o “dinossauro” Topo Gigio, o Tintin, o Cara-de-pau, o Espantalho, o Duas Caras, o Pinguim, a Mulher-Gato, o Camaleão, o Dr. Octopus, A Pimpinha Pop-star, o Duende Verde, o Morbius, o Grilo-Falante, o Gigante Pé de Feijão, o Bafo de Onça, sem esquecer o Popeye e a inseparável Olívia Palito.
Com este leque tão variado é certo e sabido que a escolha é extremamente difícil, mas fazendo minhas as palavras de Victor Hugo, «todos os Homens são bons, mas não para todas as coisas», fico crente que a coisa, com este pertinente pensamento, tornar-se-á bem mais fácil.
Nesta visitação a todas as histórias e historietas onde o centro se distancia, a esquerda teima em aproximar-se e a manhosice “apparatchick” de bastidores continua, bom seria que tivessem em conta o pouco ranço moralista (ainda) existente e que a inteligência determine que os cacos e os destroços, completamente espalhados por esse chão rosa descorado, não deem lugar a uma triste tragédia, em tudo parecida à de Antígona, onde o caos e debanda total seja mesmo o espetáculo que se segue, esperando que com este modesto contributo tenha ajudado para a feliz escolha do tal ou da tal. Ficamos todos a aguardar ansiosamente…
Por: Albino Bárbara