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Campeões de Portugal

Coisas…

Bom, pelo menos na meia-final já estamos. Agora só falta Sampaio decidir.

Tenho achado um piadão ao desfiar de argumentos da esquerda à direita no sentido de pressionar e influenciar o presidente relativamente à decisão que vai ter que tomar. Afinal, toda a gente sabe que a coisa é muito simples: de um lado aqueles que têm um tacho e o querem prolongar por mais uns tempos; do outro, os outros (entre os quais me incluo) que estão fartos desta gente e vêem neste inesperado bónus do Dr. José Manuel Barroso, como passou a ser conhecido, uma luz ao fundo de um túnel negro como breu e comprido como um funil.

Toda a conversa acerca da legitimidade democrática, quer na sua vertente dinástica, quer na outra, popular e de massas, não passa de uma forma politicamente aceitável de dizer ao Dr. Jorge Sampaio que faça a escolha que mais agrada a cada um. Este é que não parece muito pelos ajustes e se pudesse não decidir coisa nenhuma, à semelhança do que tem sido todo o seu mandato desde o 1º dia, não tenho dúvidas de que era o que faria. Mas, face à descarada deserção do nosso primeiro-ministro, não tem alternativa se não decidir, optar, escolher.

Pergunto a mim próprio qual seria o meu ponto de vista (que não a minha sensibilidade) se o problema se pusesse ao contrário. Isto é, se por acaso o desertor fosse da esquerda e estivesse agora toda a direita a clamar pela devolução do poder ao povo. Pergunto a mim próprio qual seria a minha opinião se o candidato a 1º ministro não fosse um ex-marido de uma ex-concorrente do Big Brother que gosta tanto de Chopin como eu gosto da Ágata. Desejaria em coerência que o presidente convocasse também eleições antecipadas, sabendo à partida que a maior probabilidade seria perdê-las?

Temos assistido a um cortejo de argumentos falaciosos e demagógicos, com alguns apelos à história, invocando-se a morte de Sá Carneiro ou a desistência de Guterres e no fundo tudo se resume a um conceito: quem é de direita quer continuar no poder a todo o custo, nem que para isso tenha que engolir o Dr. Santana (ou outra vedeta televisiva qualquer); quem é de esquerda (ou, pelo menos, não é de direita) quer ver-se livre desta gente o mais depressa possível.

O Presidente da República sabe isto tão bem ou melhor que ninguém e sabe mais. Sabe concretamente que a sua decisão é individual, política e não depende de qualquer grilheta legal ou constitucional. A minha esperança é a de que, sendo ele um homem de esquerda, esteja tão fartinho desta gente como eu e use o poder que tem (e que eu não tenho) para correr com eles e acabar de uma vez com o suplício de termos que suportar o pior governo desde o 25 de Abril.

Aqui pela Guarda já podemos imaginar a angústia que paira sobre algumas cabecinhas. Podemos até não ganhar a final, mas que já valeu a pena chegarmos até aqui, ai isso valeu.

Por: António Matos Godinho

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