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Camisola Amarela

Campeões! A carreira do Grupo de Xadrez da Guarda no Nacional da I divisão foi arrasadora. Em primeiro, do princípio ao fim (isolado a partir da segunda jornada). Até parecia uma prova de ciclismo, daquelas em que o “camisola amarela” a veste no primeiro dia para não mais a tirar. Para jogadores e clube, parabéns. Para a cidade, orgulho. Detenhamo-nos um pouco sobre este sucesso desportivo, talvez do seu caso se possam extrair ilações que sirvam para “puxar” pelo desenvolvimento e excelência em outras áreas.

Como se pode ser campeão nacional, numa modalidade de tradições milenárias e ombrear com a força de outras cidades, bem maiores, e que possuem muitos mais recursos que os nossos? Será um caso de sorte, um acontecimento irrepetível? Onde estão as causas ou razões de tais façanhas? Para responder é preciso realçar que a Guarda não é campeão, é bicampeão, e vai a caminho do “tri”(a falar assim até pareço o Pinto da Costa, cruzes canhoto!). Acresce a tudo isto o facto, não desconsiderável, de que (outra vez PC?) no presente campeonato a equipa da Guarda, ao invés de muitos dos seus adversários, ter apresentado uma formação quase exclusivamente à base dos jogadores internos do clube (Kevin, Ferreira, Encarnação e Martins), tendo recorrido a uma só contratação, a de Javier Moreno, GM argentino radicado em Espanha. Quase todas as equipas recorreram a contratações em massa de GMs e de MIs. Nós não, e saímo-nos bem. E o título é tanto mais saboroso por isso mesmo. Mas de onde vem então a força da Guarda no Xadrez? A resposta tem de passar inevitavelmente pelo trabalho. E trabalho bem feito. Recue-se no tempo, ao tempo após o 25 de Abril e reviva-se o trabalho de Marino Ferreira. Aí, sim é possível vislumbrar o início do sucesso. As sementes então deitadas foram-no com tanto carinho e sabedoria que ainda hoje os seus efeitos se fazem sentir. Não me canso de o dizer, Marino Ferreira, mais do que ninguém, é o grande obreiro destas vitórias. Estude-se a sua obra e encontrar-se-ão as linhas orientadoras que levam ao sucesso. Agora que somos campeões, aproveite-se e acarinhe-se o projecto que já deu mostras de trazer prestígio e imagem. A Guarda tem actualmente todas as condições necessárias (novos hotéis, auto-estradas) para realizar o campeonato nacional de Xadrez de 2004. Se outros se viram única e exclusivamente para o futebol, e algumas cidades não irão ter mais de um ou dois jogos, que se vire a Guarda para o xadrez. E além do campeonato nacional que se organizem outros torneios, como os que Marino Ferreira fez nos anos 70/80, quando permaneciam na Guarda cento e tal xadrezistas e os seus acompanhantes, por períodos de uma semana ou mais (isto ainda sem os novos hotéis). Ainda me lembro do antigo “Monteneve”, cheio de animação e de jogadores agarrados aos tabuleiros e às análises das partidas até às duas ou mais da manhã. Aliás do ponto de vista turístico é capaz de ser bem mais compensador ter um torneio de xadrez a decorrer na cidade do que um jogo de futebol (desse ponto de vista, entenda-se).

Por: Fernando Badana

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