«Isto é todos os anos a mesma coisa». Várias centenas de camionistas estiveram concentrados, na última segunda-feira, na fronteira de Vilar Formoso devido à proibição de circularem em território espanhol por causa das celebrações da Semana Santa. Depois de “entupirem” três parques de estacionamento da vila, os pesados começaram a ser aparcados na berma da auto-estrada A25, onde se formou uma fila com cerca de 15 quilómetros de extensão.
Apesar da circulação aos veículos pesados ter sido retomada às 21 horas portuguesas, só perto da meia-noite é que a situação ficou normalizada dada a grande concentração de viaturas. A proibição de circulação na Estrada Nacional 620 e na auto-estrada A62, que liga Fuentes de Onõro a Burgos, começou às 9 horas de segunda-feira. A meio da tarde já o Parque TIR e outro de terra à entrada da localidade estavam lotados, daí que o parque industrial tenha sido também uma opção para receber camiões. Contudo, apesar de já saberem o que os esperava, os motoristas do transporte internacional de mercadorias continuaram a chegar em catadupa à fronteira, pelo que a Brigada de Trânsito começou a vedar o acesso a Vilar Formoso e a obrigar ao aparcamento na berma da A25. De resto, também a área de serviço da auto-estrada serviu de parque improvisado para dezenas de camiões. Adelino Martins, vindo de Seia, foi um dos primeiros a chegar, faltavam poucos minutos para as 9 horas, deparando-se com a proibição de seguir viagem. Frisando que a mercadoria que transporta «tem que ser entregue às horas estipuladas», o camionista não concorda com o argumento da Guardia Civil para cortar o trânsito na 620. «Alegam que há muito movimento nesta estrada, mas não há justificação porque quase que não estão a passar carros ligeiros», afirmou.
Para este motorista, não há razão para esta proibição, pois «ou se parava em todo o lado, ou então não se parava em lado nenhum», defende. «Mas quem manda é a polícia e nós temos que nos sujeitar ao que eles dizem», disse, resignado com o tempo de espera que já levava e que ainda tinha pela frente. Também Vasco Tiago afirmava não haver «trânsito nenhum» na 620 e classificou esta paragem forçada um «castigo». «À noite amontoamo-nos todos, sujeitos a ter acidentes», criticou. Este camionista da Marinha Grande entende que a melhor solução era, por exemplo, «mandarem avançar 50 camiões de meia em meia hora», em vez de impedirem o tráfego durante todo o dia. Já Vítor Brito, de Alcobaça, que chegou a Vilar Formoso por volta das 11 da manhã, mostrou o seu descontentamento com a proibição porque «obriga-nos a descansar de dia para trabalharmos de noite», lamentou. Porém, sempre diz que «se calhar, os espanhóis até têm razão, pois avisam toda a malta e nós só vimos para aqui porque queremos», reconheceu. Aliás, apesar de saber que não poderia passar a fronteira, o motorista optou mesmo assim por sair bastante cedo de Alcobaça. «Preferi esperar aqui para ver se, à noite, consigo andar um bocado por aí fora. É que se não viesse tão cedo, depois ficava lá para trás e já não conseguia andar tanto», indicou.
Ricardo Cordeiro