A três semanas do começo da pré-época, o Sporting da Covilhã arrisca-se a não ter plantel para o início do campeonato. O clube apenas dispõe de seis jogadores e face à redução dos 20 mil euros mensais da Câmara da Covilhã para os 4 mil a partir de Julho, o futuro da colectividade avizinha-se negro e já levou a comissão de gestão a discutir na última terça-feira o orçamento a disponibilizar ao futebol profissional.
O protocolo semestral assinado em Janeiro termina este mês e a partir de Julho o clube vai passar a receber apenas 4 mil euros mensais, com a garantia do autarca covilhanense dar cinco mil euros no final do ano. «Teremos que repensar e conversar com os jogadores», admitiu João Petrucci, presidente da comissão de gestão do SCC, durante o jantar comemorativo dos 81 anos do clube no último sábado.
Perante a falta de dinheiro para pagar aos “Leões da Serra” o mesmo salário que outros jogadores recebem na II B, Petrucci teme que alguns «emblemas do clube», como Trindade, Luciano ou Rui Morais, abandonem o Sporting. «Infelizmente, não podemos ir além com mais valores. Se compreenderem, ficam no Sporting, se não compreenderem tenho muita pena», acrescentou. E justificou: «Mesmo que tivéssemos 20 jogadores a ganhar 90 contos, isso ultrapassava de longe o orçamento da Câmara e o SCC tem ainda as camadas jovens e o passivo do clube para pagar todos os meses. Tudo isso obriga-nos a reflectir muito a sério», desabafou, apelando à ajuda de «todos» os sócios, amigos e empresários da região para que o Sporting continue «a levar o bom-nome da cidade a todos os cantos de Portugal». A atravessar a pior crise de sempre, quer directiva como financeira, aquele que é considerado o maior clube futebol da região luta agora pela sobrevivência. «Estamos no limite e pedimos a todos que nos ajudem», apelou Petrucci, enquanto solicitou «um ano de carência» aos cobradores do clube. Com um orçamento diferente do previsto há alguns dias, a comissão de gestão está agora a «lutar e a estudar planos» para conseguir completar a carência financeira. O jantar de aniversário, onde foi distribuído um envelope a cada convidado para apoiar o SCC, foi já uma espécie de angariação de fundos, estando ainda previstas outras iniciativas como a criação do diploma do amigo e sócio do SCC.
Perante esta nova realidade, João Petrucci apenas garante que o Sporting irá lutar pela melhor classificação possível. «Vamos trabalhar no limite para dar o melhor empenho, mas não nos peçam o impossível», avisa, sublinhando ser «difícil» manter a dignidade de um clube com 81 anos e na II B com um orçamento «comparável aos das equipas da III Divisão e distritais». Da Câmara da Covilhã, representado pelo vereador com o pelouro do desporto, Joaquim Matias, apenas ficou a garantia de que a autarquia poderá «rever o subsídio se as coisas melhorarem». Apesar das dificuldades, o treinador Fernando Pires (Fanã) espera ter o plantel definido a 14 de Julho, data do recomeço da pré-época. O técnico admitiu, no entanto, que gostaria de contar com alguns «jogadores-chave» do clube para criar uma equipa «sólida e capaz de contribuir para o enriquecimento do Sporting, mas também para criar estruturas para ascender a outros escalões no futuro». Para isso, Fanã quer apostar num «misto de experiência e jogadores jovens» para iniciar o campeonato «nas melhores condições possíveis».
Unir esforços é prioritário
No jantar comemorativo dos 81 anos do clube, apelou-se a mais apoios dos empresários da região para ajudar o clube a ultrapassar este «momento difícil». Como “presente de aniversário”, Joaquim Matias entregou a João Petrucci um cheque de 20 mil euros referente a Maio, faltando agora receber mais 20 mil referentes a Junho. O vereador também prometeu dar pessoalmente um apoio financeiro ao clube. No entanto, alertou para a necessidade da Associação Desportiva da Estação e do Sporting «unirem esforços» para racionalizarem os custos da formação nas camadas jovens. Entretanto, João Petrucci já disse que está receptivo à ideia e que irá apresentar um protocolo nesse sentido. Mas avisa que o Sporting da Covilhã «não abdica das camadas jovens» por serem essenciais para a substituição de jogadores lesionados ou castigados. «Estamos a fazer todos os esforços para encontrar uma solução que seja viável para os dois clubes e que não prejudique a identidade do SCC», sublinha.
Liliana Correia
