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Calor e vento trazem fogos de volta

Militares chegam ao PNSE, onde já ardeu mais de quatro vezes a área total consumida em 2002

Os incêndios voltaram no início desta semana a lavrar com intensidade nas encostas do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). Nos últimos dias, a área protegida foi afectada por vários fogos de alguma dimensão em zonas florestais com importância em termos de biodiversidade, nomeadamente na zona de Gouveia e Verdelhos (Covilhã). Só na segunda-feira as chamas irromperam em três locais distintos do PNSE, contribuindo para o aumento da área ardida no parque, o maior do país, que já perdeu até agora nove mil hectares, 800 dos quais em plena reserva biogenética nas zonas de Lagoacho, Sabugueiro e Lagoa Comprida.

O regresso do calor, a diminuição da humidade relativa e o vento forte que se fez sentir na Beira Interior no fim-de-semana teve consequências imediatas em matos e florestas da região, afectando sobretudo os concelhos de Gouveia, Guarda, Pinhel, Sabugal e Trancoso. Os primeiros sinais de alerta aconteceram no domingo, com ocorrências alarmantes no Azevo (Pinhel), Lageosa da Raia (Sabugal), Aldeia Nova (Trancoso), Penedo da Sé (Guarda), Abitureira e Vila do Touro (Sabugal). Este último incêndio, que começou no concelho da Guarda e alastrou para o município raiano, terá destruído, segundo o coordenador do Centro Distrital de Operações de Socorros (CDOS) da Guarda, António Fonseca, alguns palheiros e uma extensa área de castanheiros, carvalhais, pinhal e culturas agrícolas. Mais preocupante foi o reacendimento registado na manhã de segunda-feira nas imediações de Freixo da Serra (Gouveia), poucas horas depois de um incêndio ter sido dado como circunscrito junto a Cativelos. Este fogo consumiu uma extensa área de floresta, mato, pinhal e algumas culturas, nomeadamente vinhas e pomares, num perímetro extenso compreendido entre Cativelos, Vila Nova de Tazem, Girabolhos, Póvoa da Rainha e Tazem, referiu o comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Tazem, Seara Pires.

Já durante a tarde de segunda-feira, as chamas lavraram com grande intensidade no PNSE em matas de Alrote (Gouveia), mas o sinistro acabou por ser controlado junto à estrada que liga a “cidade-jardim” ao maciço central da Serra da Estrela numa altura em que os 40 efectivos presentes no local receberam o apoio de uma coluna de socorro oriunda do Porto formada por três dezenas de bombeiros. Estes elementos tinham participado na véspera no combate às chamas nos concelhos da Guarda e Sabugal. Entretanto, a meio da tarde, na zona de Gouveia, os incêndios florestais dados como circunscritos reacenderam de forma dispersa e com grandes proporções, um dos quais chegou a ameaçar uma exploração de ovinos em Cativelos. Mas a pronta intervenção dos bombeiros, auxiliados por um helicóptero, evitou o pior. Na terça-feira, a região vivia uma situação mais calma em termos de incêndios, sendo de registar a chegada de militares para a área do PNSE com a missão de patrulhar e vigiar o parque, bem como ajudar os “soldados da paz” no combate às chamas e nas operações de rescaldo. Um cenário que vem confirmar os «enormes» receios de Fernando Matos, director do PNSE, de que o mês de Setembro seria um período “escaldante” na área protegida, onde as chamas já consumiram este ano mais de quatro vezes a área total ardida em 2002.

Luis Martins

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