Antes de mais, um esclarecimento: a minha referência ao blogue “Boca de Incêndio”, feita no texto da semana passada, está errada. A referência a Joaquim Valente é feita num comentário, aparentemente assinado, a um post de Américo Rodrigues no blogue Café Mondego. O lapso era evidente, já que bastava verificar as fontes por mim indicadas para descobrir a origem da informação. Esta, já agora, estava subentendida, ou insinuada, em boa parte dos textos escritos sobre o assunto.
O meu lapso acabou por ser um belíssimo pretexto para a discussão se desviar, novamente, do essencial. Ninguém pareceu querer discutir as consequências para a cidade de uma comunicação social demasiado domesticada, ou demasiado próxima dos políticos que deveria criticar e vigiar. Ou então fizeram-no generalizando: todos o fazem, a Madalena Ferreira, que levantou a lebre, terá as suas próprias culpas no cartório. Como todos o fazem, é como se ninguém o fizesse – o que implica que nem interessa discutir o assunto e mais vale discutir as minudências ou os aspectos laterais da questão. Ou então calar de vez a coisa.
Interessa recordar aqui algumas coisas. A cidade da Guarda foi tristemente notória pela prisão de um seu presidente da Câmara, por acusações de corrupção, e por inúmeras queixas-crime por difamação ou abuso de liberdade de imprensa, instauradas por políticos contra jornalistas. A própria Madalena Ferreira foi objecto de várias queixas, chegando a ser detida em plena emissão. Pode-se dizer que houve na Guarda, ao longo de muitos anos, a par de fenómenos de corrupção uma insistente tentativa de silenciamento da comunicação social. Isto deveria tornar-nos a todos muito críticos e muito desconfiados sobre situações como a referida pela Madalena Ferreira.
A comunicação social, diz o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, deve ser o watch dog dos políticos. Os jornalistas podem por vezes exagerar nesse seu papel; podem, no seu afã de denúncia de situações pouco claras, ofender quem nada de mal tenha feito. Se o fizerem causam dano, mas se se calarem, ou se limitarem a ser porta-voz de políticos e do poder, se optarem por ser o cãozinho de estimação dos poderosos, então é muito pior e ficamos todos prejudicados. Neste caso, perderemos uma das mais importantes manifestações de liberdade: a de denunciar sem medo o que está mal. E se ninguém estiver disponível para denunciar, então ficaremos definitivamente entregues à bicharada.
É curioso, entretanto, que a maior parte da critica feita nos blogues aos textos sobre a polémica que referi na semana passada seja anónima (e geralmente insultuosa, aproveitando o guarda-chuva do anonimato). Isto (e aproveito para homenagear o saudoso “O Meu Pipi”) é coisa de roto. Há também alguns que dão nomes femininos (como um imbecil que me insultou no Hi5 dando um nome tipo Vanessa e revelando depois no perfil ser do sexo masculino). Isto já não é só coisa de roto, é coisa de porta-bandeira numa olimpíada de rotos (deve haver). É claro que não é pecado nenhum gostar de “abafar a costeleta”, ou de “pegar de marcha atrás”. Cada um dá aos seus orifícios o destino que bem entende, mas a questão suscita novas interrogações: será esta a explicação para a brutal quebra da natalidade no interior?
Em tempo: ninguém respondeu ainda às questões que levantei na semana passada.
Por: António Ferreira