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c-myc

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Douglas Hanahan e Robert Weinberg escreveram em 1999 um texto científico, hoje muito nomeado em trabalhos de biologia molecular, onde descreviam um modelo multifuncional de génese do cancro. A ideia é que são precisos vários acontecimentos sequenciais para que se dê uma mutação oncogénica. Não pode haver uma transformação apenas, uma frenação de uma atividade, uma super expressão proteica, é preciso que se associem várias alterações. O cancro é uma célula que cresce sem respeito da fronteira, que invade outros tecidos e que metastiza. Ou seja, o cancro é como um delinquente numa casa. Rouba os bens dos irmãos, parte a loiça da avó, estraga o carro do pai e mesmo assim só é delinquente quando a polícia o prende. Mas o processo envolve o psicólogo (perceber o menino), a escola (mudar as más influencias), a mãe que superprotege ou fala de modo inapropriado das situações. A sequência que leva ao crime está na informação genética (por exemplo, no c-myc da célula) que pode ser expressa ou não. Há mecanismos de controlo, mecanismos educacionais, vizinhos atentos e aceites, companheiros permissivos, outros submissos, outros estimulam (por exemplo, o fator Tcf). Todas as variáveis terão de ser tidas em conta para que o processo se manifeste da pior maneira. Tem de estar a ocasião criada (o recetor desimpedido na membrana), o estímulo disparado (a agressão constante por tabaco, por fumeiro, etc), a mãe de férias e o pai desatento. Depois não há vizinhos a ver, a noite está mais escura, os amigos são os que não prestam e zás… o cancro aparece. O roubo naquela noite é o produto de muitas coincidências e de muitos fatores negativos a trabalhar no mesmo sentido. Esta é a ideia do cancro e a sua similitude com o tecido humano e social. Estejam atentos e vigiem que essa é uma tarefa dos pais.

Por: Diogo Cabrita

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