O Centro Cultural de Aguiar da Beira exibe sábado à noite o filme mudo “Pamplinas Maquinista”, musicado ao vivo pelos “Macacos das Ruas de Évora”, banda de rua, a partir de uma banda sonora original de Gregg Moore. É a segunda iniciativa programada na vila no âmbito do projecto da rede cultural “Comum” e conjuga cinema com música, uma experiência iniciada em Janeiro de 2002 na Covilhã para o projecto “Movie Kicks” do cineclube local. Frente a frente vão estar uma das mais emblemáticas películas do cinema mudo e a criatividade musical de Gregg Moore, compositor e músico norte-americano radicado em Évora, mas com inúmeros projectos na região.
O filme do genial Buster Keaton, que também já passou pela Mediateca VIII Centenário da Guarda, data de 1926 e é um símbolo da representação keatoneana, onde o olhar é o elemento-chave da acção, o único factor a trair a fleugma imperturbável de Johnny Gray, herói contra tudo e todos, que enfrenta sozinho as situações mais espinhosas. “The General”, título original, é uma odisseia ferroviária que retoma um episódio verídico da Guerra Civil americana, condimentado com uma pitada de burlesco. É uma história de roubos de comboios e perseguições, onde Keaton, também conhecido como o “homem que nunca ri”, é um eterno inadaptado em constante adaptação às vicissitudes que a trama do destino e os seus adversários lhe colocam pela frente. A dinâmica dramática está ainda interligada a outro factor de superação de si próprio: as mulheres. Em “Pamplinas Maquinista” é por amor que, acumulando prodígios, Buster Keaton se faz herói épico. Elementos que inspiraram a Gregg Moore uma banda sonora de perseguição, com duas peças de 15 minutos. Uma música rápida, que acompanha o andamento da locomotiva, semeada aqui e ali por vários sentimentos de melodia e alguns intervalos de menor rapidez.
Visivelmente influenciado por Nino Rota, Ennio Morricone, música de filmes de “cowboys”, dixieland, irlandesa ou de circo, Moore propõe aos espectadores um tema de amor, algumas marchas, temas folclóricos, muitas músicas experimentais – escrita e improvisada – e um final “heróico”. Uma composição que pode não ser sempre descritiva, mas que vai certamente tornar possível imaginar o filme ouvindo apenas a música. A rede cultural “Comum” foi constituída em Março e resulta do desafio lançado pela Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT) e o Cine Clube de Viseu às autarquias de Aguiar da Beira (Guarda), Oliveira de Frades, Mangualde, Santa Comba Dão, Tondela, Vouzela (Viseu) e Sever do Vouga (Aveiro). Os sete parceiros deram origem a um circuito privilegiado de itinerância de eventos que vai contribuir para valorizar os respectivos espaços culturais, garantir condições económicas mais vantajosas na contratualização das actividades, bem como apoiar a criação dos agentes locais cujos trabalhos circularão pelos espaços da “Comum”. O projecto assegura 16 eventos anuais em cada município até Maio de 2006, altura em que o conceito vai ser avaliado.
Luis Martins