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“Boys” há muitos

Editorial

1. Depois de termos revelado em ointerior.pt os principais nomes do futuro Conselho de Administração da ULS Guarda (nomeadamente os de Isabel Coelho e Fátima Cabral), vários militantes e dirigentes socialistas, que há muito anseiam por um lugar ao sol no país da “geringonça”, exigiram uma tomada de posição à Distrital socialista. António Saraiva, com uma enorme falta de tato político, enviou então um email para o ministério da Saúde dando conta da insatisfação dos socialistas por o novo CA da ULS estar a ser definido sem incluir os nomes indicados pela Distrital. Na verdade, António Saraiva fez o que todos os dirigentes partidários fazem: defender o lugar da casta. Cometeu o erro de o fazer por escrito. E de o enviar para um ministério que não tem paciência para aturar o jogo político habitual em 40 anos de Democracia. De resto, só nos últimos anos foram contratadas, pelo hospital da Guarda, dezenas de pessoas cujos únicos méritos reconhecidos são as ligações diretas ou familiares ao partido do poder (ou que foi poder) e cujo emprego se deve a um nepotismo revoltante – pessoas que deveriam ser excluídas (despedidas) pelo futuro CA sem apelo nem agravo (e que entretanto deviam ter vergonha na cara e andar de cabeça baixa por estarem a ser pagas pelo erário público, pelos impostos que os demais pagamos, para lhes ser proporcionado um salário imérito e injustificado –António Saraiva é o novo rosto dos “jobs for the boys”, mas os “jobs” há muito que são distribuídos por outros “boys”.

Como consequência do protesto lavrado pela distrital do PS, o processo de substituição do CA da ULS foi adiado, mais uma vez, e se o nome de Isabel Coelho continua a ser o preferido pelo ministro, os demais elementos poderão ser outros. Fátima Cabral, que foi o foco do protesto dos socialistas, por ter sido diretora-clinica com um governo do PSD, numa administração liderada por Ana Manso, de que saiu exonerada, no seguimento de várias situações tidas como delicadas (nomeadamente a nomeação de Francisco Manso para auditor interno da ULS-Guarda, que terminaria em tribunal com a acusação de abuso de poder). Entretanto, Carlos Rodrigues, repetidamente acossado para sair, continua a presidir ao Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde e se não for substituído em breve arrisca-se a manter o lugar até depois das autárquicas.

2. Na Guarda, o PS sofre a ressaca de 40 anos de poder que deram lugar ao vazio. Joaquim Carreira, que terá sido convidado pela concelhia da Guarda para liderar uma candidatura, na sequência de uma inequívoca disponibilidade, adivinhada ao longo de quase quatro anos de parca e ziguezagueante oposição, e após semanas inconclusivas, o vereador do PS não estará disponível. Joaquim Carreira terá chegado a exigir o apoio incondicional do PS nacional e, nesse contexto, deslocou-se mesmo ao Largo do Rato, com o presidente da Concelhia, João Pedro Borges, e o presidente da Distrital, António Saraiva, para ouvir da secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, e da coordenadora autárquica nacional do PS, Maria da Luz Rosinha, resposta positiva a todas as suas exigências – que na prática se resumiram ao óbvio apoio do PS nacional, à garantia de que o CA da ULS seria substituído por pessoas afetas ao partido (afinal, todos querem controlar a ULS-Guarda) e a substituição imediata da direção distrital da Segurança Social por alguém do PS (podia ter aproveitado para apresentar um projeto, ou ideia, para o concelho e exigir também apoio ao PS nacional). Depois, e apesar das condições aceites, Carreira terá finalmente percebido que Álvaro Amaro tem uma passadeira estendida para a vitória e decidiu não avançar, até porque, afinal, os seus afazeres profissionais não lhe deixarão disponibilidade para ser candidato.

O PS fica assim com um problema que terá de ser resolvido por algum dos muitos militantes que ocuparam lugares públicos, que têm emprego graças ao partido ou que foram ou são profissionais da política pela mão do partido –os que em algum momento serviram ou se serviram ou foram ajudados pelo partido têm agora obrigação de fazer o favor ao partido.

Luis Baptista-Martins

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