Depois de um ano dramático em 2007 para as adegas cooperativas da região, a próxima vindima deverá servir para acalmar as hostes. Os preços do vinho até subiram, mas aquém do esperado pelos agentes económicos. Agora, esperam-se algumas melhorias, mas «abaixo de um ano normal», indicam vários responsáveis por estas instituições. Os privados não se queixam tanto e João Carvalho, da Quinta dos Termos, não esconde que 2007 se tratou de «um ano para profissionais».
Albertino Nunes, director da Adega Cooperativa do Fundão, está positivamente ansioso pela próxima colheita. As quebras de 15 por cento a sul da Gardunha não afectam a recuperação em relação a 2007, que se deverá traduzir num acréscimo de 100 por cento – dos dois para os quatro milhões de quilos recepcionados: «Temos qualidade e quantidade, mas falta-nos escoamento. Infelizmente ainda há muitas coisas baratas e sem qualidade no mercado».
Já a Adega Cooperativa de Pinhel, que no ano passado recebeu seis milhões de quilos de uva, aguarda agora 13 milhões. Ainda assim, ficará aquém de 2006 (16,7 milhões de quilos), «um ano normal» para Agostinho Monteiro. O presidente da instituição aponta o frio atípico e as chuvas de Maio de provocarem um rebento defeituoso e tardio das videiras, a que se seguiu um calor brusco que dificultou a polinização, deixando uvas com poucos bagos e fracos. «Agora era fundamental uma boa chuvada», vaticina o responsável.
Em Figueira de Castelo Rodrigo, José Nunes, director da adega local, prevê que a subida da colheita relativamente à última campanha possa atingir os 25 por cento. Um aumento limitado por «alguns problemas de ordem climatérica. O calor é importante, mas às vezes vem em momentos que não são os mais convenientes». Agora, os viticultores daquela zona esperam chuva, mas sem trovoada nem granizo. Quanto às vendas, José Nunes até detecta uma ligeira subida do preço, mas a quedo do consumo em nada tem ajudado.
À espera de chuva está também a Adega Cooperativa de S. Paio. Na zona do Dão, aquelas vinhas «já estão a secar», alerta Raul Gonçalves, presidente da instituição. «Os preços praticamente não aumentaram», e o responsável não esconde as «expectativas péssimas». «Ainda temos todo o vinho de 2006 à espera que alguém o compre». Os associados estão há cinco anos sem receber e multiplicam-se os requerimentos para arrancar vinha.
Particulares optimistas apostam na qualidade
Na Quinta dos Termos, João Carvalho não esconde estar satisfeito com o clima dos últimos meses e a humidade de Maio, que «fez a selecção natural das quantidades». Na zona de Caria (Belmonte), espera-se, por isso, «a melhor colheita dos últimos cinco anos». As vinhas novas deverão ainda acrescentar 10 por cento à vindima de 2007, que foi «um ano para profissionais, propício a muitas doenças, que exigiram muitos cuidados», salienta o agricultor, galardoado com a medalha de Melhor Vinho DOC no 1º Concurso de Vinhos da Beira Interior, promovido este ano.
Por seu turno, Luís Roboredo, produtor do Gravato, na Coriscada (Mêda), lamenta ter «pouco vinho, pois os bagos estão secos devidos às geadas». Ainda assim, uma melhoria das condições climatéricas poderá proporcionar uma agradável surpresa. «Se vier calor, talvez tenhamos boa qualidade, e se houver alguma chuva tudo pode melhorar», prenuncia.
Calma é a palavra de ordem da Quinta do Cardo (Figueira de Castelo Rodrigo). João Correia, director de enologia da Companhia das Quintas, vê a maturação «bastante atrasada». As chuvas de Maio e as boas temperaturas desde então levam o especialista a acreditar que este ano possam surgir vinhos com «qualidade acima da média», sem que a quebra na quantidade seja um problema grave: «Estes anos podem ser bons para equilibrar as situações de excedentes».
Almeida Garrett, produtor do Tortosendo (Covilhã) encontra-se em situação semelhante à Quinta do Cardo: algo atrasado, mas confiante numa boa maturação, ajudada pelas «temperaturas pouco acentuadas». Quanto às vendas, Almeida Garrett é contido, mas espera registar um aumento que pode chegar aos 20 por cento. Para tal, contribuem as exportações que, até final de 2009, deverão passar de 20 para mais de 50 por cento.
Igor de Sousa Costa