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Bombeiros do Paúl duvidam das promessas de Carlos Pinto

Proibidos de falar com a comunicação social, os “soldados da paz” consideram que se trata apenas de «mais uma promessa eleitoralista»

Os bombeiros do Paúl continuam a duvidar que algum dia terão um quartel novo. As promessas passam de ano para ano e só «quando se aproximam as eleições» é que voltam a ouvir falar das condições em que vivem. “O Interior” foi conhecer de perto a casa onde 17 voluntários convivem e pernoitam. A entrada não foi facilitada, aliás, foi praticamente barrada pelo comando geral da Covilhã. Proibidos de falar à comunicação social, sob ameaça de expulsão, como aconteceu a um colega que «abriu a boca para falar a verdade», os bombeiros paulenses limitam-se a cumprir ordens superiores vindas da corporação-mãe. Mesmo assim, “O Interior” visitou as instalações terceiro-mundistas e foi ver de perto a miséria em que se exerce o voluntariado em plena Serra da Estrela.

Estrados em madeira, escadas estreitas, tectos quase a cair de velhos, um dos quais já foi recuperado pelos próprios bombeiros, pois ameaçava ruir devido às infiltrações de água no Inverno. O pior vem depois. Há um quarto apertado para três camas, vestiários miseráveis e temperaturas insuportáveis: «Um forno no Verão e um gelo no Inverno», ouve-se dizer. Assim se vive ali há 15 anos, altura em que a quarta secção dos Voluntários da Covilhã nasceu em instalações que «eram apenas provisórias, mas depressa passaram a definitivas». Filipe Ricardo, ex-bombeiro e conhecedor dos meandros da casa, encara a promessa de Carlos Pinto (ver edição de “O Interior” de 07/07/2005) como «mais uma manobra eleitoralista». «Só mesmo com a chave na mão a abrir a porta é que eu acredito», garante este paulense, o único que presta declarações por já não pertencer à corporação. Já por duas vezes que a freguesia recordou aos responsáveis as promessas feitas há cerca de cinco anos. Primeiro uma porta de ferro para lembrar a chave que já deveria ter sido entregue, dois anos depois um quartel de papelão erigido no terreno inicialmente previsto para a construção do novo edifício, junto ao campo de futebol da vila, juntamente com 24 habitações sociais. «Destas nunca mais se ouviu falar», recorda Filipe Ricardo, adiantando que foram construídas noutras localidades.

Quanto ao quartel, o terreno agora apontado localiza-se junto ao mercado municipal, embora muitos preferissem ver ali uma zona de lazer em vez de um «monstro no centro da vila». Ainda assim, o que os bombeiros desejam mesmo é ter outras condições para poderem cativar novos voluntários, que actualmente não existem porque «nem para nós há espaço», vão desabafando sob anonimato os resistentes. Já o ex-bombeiro considera que o próprio comandante «não está interessado no aumento da corporação», porque, segundo “O Interior” conseguiu apurar, o objectivo era alegadamente transferir aquela secção para Unhais da Serra. Até aqui, a corporação do Paúl só trabalhava com duas viaturas «obsoletas» (uma só comportava 400 litros de água), mas recentemente recebeu um carro, «novo no Paúl, mas velho na Covilhã», que satisfaz «minimamente» as necessidades da zona Sul do concelho. Quanto à promessa de uma casa nova no Verão de 2006, juntamente com um anfiteatro para 120 pessoas, Filipe Ricardo diz tratar-se da «versão quatro ou cinco do novo quartel». Entretanto, este ex-bombeiro elogia a Auto-Transportes do Fundão que cedeu a sua garagem na vila para os bombeiros guardarem as viaturas, material que «dormia ao relento» até há pouco tempo. A última manutenção ali feita foi paga pelo comando da Covilhã, um «pequeno arranjo no telhado», mas o protocolo celebrado refere que os veículos regressarão à rua assim que a empresa necessitar da garagem.

Rita Lopes

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