Jorge Noutel quer uma auditoria às contas da Câmara da Guarda. O candidato do Bloco de Esquerda nas autárquicas de Outubro considera que só assim se saberá «onde está o despesismo e onde tem sido gasto o dinheiro para o município apresentar uma dívida superior a 41 milhões de euros». O BE apresentou os seus cabeças de lista a Figueira de Castelo Rodrigo e Guarda na última sexta-feira, numa sessão realizada no auditório do Paço da Cultura que contou com a presença de Francisco Louçã.
O líder do Bloco espera que estas duas listas possam contribuir para trazer uma «cultura nova» para a política autárquica do distrito. «É um desafio à rotatividade entre PS e PSD nas Câmaras», disse, garantindo que Portugal só vai mudar quando for criada uma «esquerda nova e popular». Francisco Louça sublinha que o BE participa nas autárquicas para combater a «mesquinhez dos dirigentes políticos e económicos, bem como o situacionismo. Queremos demonstrar a quem é poder nas Câmaras que isto não é tudo deles». O dirigente falou depois da situação nacional e acusou José Sócrates de ter escondido dos portugueses o que ia acontecer. «Ele tinha obrigação de o fazer», criticou, sustentando que «não se combate o défice» com as medidas propostas pelos socialistas. «São iguais às que o anterior Governo tomou e todas juntas aumentaram o défice de cinco para seis por cento», lembrou. Uma opinião partilhada por Jorge Noutel, que já tinha sido cabeça-de-lista pela Guarda nas legislativas, mas o candidato tem outras prioridades em carteira. Como o hospital, as acessibilidades, o parque industrial «obsoleto» e a «altamente preocupante» situação financeira da Câmara da Guarda. «Eu tenho dúvidas quanto ao défice tornado público», afirmou, exigindo uma auditoria a seguir às eleições.
Outro alvo de Jorge Noutel são as empresas municipais criadas na Guarda: «É um artífice para fugir ao Tribunal de Contas e uma maneira fácil de contentar clientelas. Mas há facturas a pagar», avisa, não sem antes prometer uma candidatura «chocantemente» jovem, a anunciar nas próximas semanas. «É uma provocação», admite o professor. Já Daniel Gil, 30 anos, é o candidato do BE em Figueira de Castelo Rodrigo. Filho do malogrado fotógrafo Carlos Gil, o jovem regressou recentemente à terra do seu pai e quer dar o exemplo: «Quero pensar que é possível viver em Figueira», refere, dizendo ter encontrado muitos jovens com vontade de ficar por ali. «Teremos que fechar a loja se as sedes de concelhos continuarem a perder gente», sublinhou, esperando contribuir , à sua medida, para contrariar essa tendência com um bar, aberto recentemente, a Fundação Carlos Gil e, futuramente, uma biblioteca. Quanto ao programa, foi mais prosaico: «Não tenho 38 mil caracteres com propostas para Figueira de Castelo Rodrigo, mas apenas sete caracteres: carácter». A assistência gostou do trocadilho e da referência irónica a Manuel Maria Carrilho. Contudo, nem só de ironia se faz uma campanha política e Daniel Gil criticou o «cambalacho político» existente em Figueira. «As facções são de tal forma que não permitem que o espírito de comunidade exista na vila», denunciou.
Luis Martins