Os bispos da região Centro estiveram reunidos na Guarda, na passada segunda-feira, mas não para analisar a questão do aborto. «Esse assunto nem sequer foi abordado, pois está encerrado para a Igreja», esclareceu, no final deste encontro mensal, D. Manuel Felício, que se disse optimista quanto ao resultado do referendo de 11 de Fevereiro. «As pessoas são espertas», confia, embora se tenha congratulado por haver «três vezes mais» movimentos em defesa do “não” que em 1998.
«Na Guarda, o movimento de cidadãos conseguiu mais de 11 mil assinaturas validadas, o que é muito bom», recordou, esclarecendo que a Igreja está «no terreno com os grupos cívicos para ajudar os cidadãos a perceberem o valor fundamental da vida e não contra ninguém». O Bispo da Guarda só lamenta que o assunto tenha sido «indevidamente politizado», uma circunstância que invocou para explicar «a campanha» nas missas: «Do altar para baixo não devo fazer campanha partidária, mas todos os padres têm que esclarecer e orientar as suas paróquias», alegou. De resto, D. Manuel arrumou a questão parafraseando Pacheco Pereira, que escreveu recentemente no diário “Público” que «os portugueses precisam da orientação da Igreja, mesmo que discordem dela». Quanto a argumentos, o prelado considera que o Governo deveria tomar «medidas urgentes de apoio à natalidade e à família», defendendo que «o dinheiro disponibilizado para abortos seria melhor empregue na ajuda a crianças e mães carenciadas».
Actualidade à parte, os bispos de Aveiro, Coimbra, Castelo Branco/Portalegre, Leiria/Fátima, Guarda e Viseu debateram as formas de exercerem o seu ministério numa sociedade laica e pluralista. «Já não há a homogeneidade e a tradição cristã de antigamente, pelo que temos que nos posicionar para darmos atenção a outras crenças e formas de encarar a vida. Não para as marginalizar, mas respeitando-as e integrando-as nas nossas comunidades de forma a contribuir para o bem comum», revelou depois D. Manuel Felício. O porta-voz improvisado acrescentou que as seis dioceses, com cerca de 1,5 milhões de pessoas, têm em comum problemas como o desemprego, a desertificação do mundo rural e a concentração da população nas grandes cidades. «A religião tem que ser um factor de união e de reforço da identidade das nossas comunidades», disse. A próxima reunião está agendada para Leiria, em Fevereiro.