Arquivo

Beiralã fechou na sexta-feira

Sindicato têxtil lamenta que o administrador judicial tenha optado por despedir os restantes 90 trabalhadores

A falta de condições para continuar a assegurar o pagamento dos salários aos 90 trabalhadores que restavam na Beiralã «acabou por levar o gestor judicial a optar por fechar as portas e a despedir toda a gente», afirma o coordenador do Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA). Carlos João, que já havia adiantado a O INTERIOR as intenções daquele responsável, mostra-se pessimista quanto ao futuro de uma das últimas empresas têxteis de Seia.

«Todos sabem que é mais fácil os credores viabilizarem uma fábrica que está a laborar do que uma que está paralisada», lamenta. De acordo com o sindicalista, o último dia de trabalho dos funcionários que, desde o início do ano, estavam a garantir a laboração da unidade senense foi na passada sexta-feira. «Haverá apenas um ou outro a acabar algum trabalho, mas estão todos despedidos», assegura Carlos João. «A partir do momento em que não há garantias de trabalho e de que possa ser feito o pagamento dos salários, o gestor judicial não quer, obviamente, ser ele próprio a ter de pagar», refere. O coordenador do STBA não poupa críticas ao ex-administrador da empresa, Rui Cardoso, que acusa de, por via deste encerramento, «fugir ao pagamento dos subsídios de férias, por não serem gozadas. Por outro lado, ele não tem garantias de que a proposta que vai apresentar na próxima Assembleia de Credores será aprovada», afirma Carlos João, para quem «a empresa tinha condições para continuar a laborar».

O sindicalista prevê que a próxima Assembleia de Credores da Beiralã decorra durante este mês de Agosto, estando ainda por realizar a reunião entre o STBA e os funcionários, destinada a analisar a nova proposta, que o sindicato garante ser do próprio Rui Cardoso, pelo que Carlos João continua sem adiantar pormenores sobre o seu conteúdo. «Se Rui Cardoso continuar a não querer assumir todas as dívidas aos trabalhadores, nada feito», reitera. Recorde-se que na primeira Assembleia de Credores, a 1 de Junho, o plano de insolvência não agradou e não foi votado, por forma a possibilitar uma segunda versão e a viabilização da fábrica. A proposta era da Texwool Lanifícios, sediada no Parque Industrial do Canhoso (Covilhã), e assentava no pagamento de apenas 15 por cento aos credores comuns e entidades públicas em dez e dois anos, respectivamente. No caso dos trabalhadores, ficaram de fora as indemnizações por antiguidade, prevendo o pagamento de salários em atraso, férias, subsídios e respectivos proporcionais em 12 meses.

No total, os créditos da Beiralã, insolvente desde 1 de Abril – altura em que foram despedidos os120 trabalhadores com contratos suspensos –, ascendem aos 12 milhões de euros. Esta é a segunda vez que a fábrica encerra. A primeira aconteceu em finais do ano passado, depois de Rui Cardoso ter anunciado, em Setembro, que não tinha condições para continuar a pagar os salários a todos os funcionários. Em consequência, parte deles decidiu suspender os contratos de trabalho por forma a poderem usufruir do subsídio de desemprego. A empresa retomou a laboração no início deste ano, tendo readmitido progressivamente 90 trabalhadores. Contactado por O INTERIOR, o administrador judicial, António Correia, recusou-se a prestar quaisquer declarações por estar de férias e não ter consigo as informações necessárias para se poder pronunciar.

O último dia de trabalho dos 90 funcionários foi na passada sexta-feira

Beiralã fechou na sexta-feira

Sobre o autor

Leave a Reply