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Beiralã dispensa mais de metade dos trabalhadores

Cerca de 150 operários da fábrica têxtil de Seia vão para o desemprego já a partir de segunda-feira

Cerca de 150 dos 208 trabalhadores da Beiralã, a fábrica têxtil de Seia, vão pedir, na próxima segunda-feira, a suspensão dos respectivos contratos de trabalho. Rui Cardoso, proprietário da empresa, reuniu em plenário com os operários na última segunda-feira para lhes comunicar que «não será possível proceder ao pagamento do mês de Agosto e que a solução passará por a unidade continuar a laborar apenas com alguns funcionários», adianta Carlos João, presidente do Sindicato dos Têxteis da Beira Alta (STBA).

Esta decisão vai afectar, pelo menos, um terço dos funcionários da empresa. Ainda assim, segundo o sindicalista, os salários estão todos pagos, «à excepção do último mês». Por liquidar estará ainda o subsídio de férias, que deverá ser «pago ao longo desta semana». A suspensão de contratos é encarada pelo STBA como «uma solução temporária». Até ao final do ano, «tem que estar tudo resolvido. Ou os credores decidem que há condições para viabilizar a empresa ou esta decreta falência», adianta Carlos João. Isto porque Rui Cardoso vai pedir a insolvência da fábrica antes do fim do mês. Apesar disso, o sindicalista acredita que a Beiralã «será viabilizada», mesmo com dívidas da ordem dos 10 milhões de euros. Montante que o empresário nega terminantemente. Rui Cardoso garante que as dívidas, entre fornecedores e a banca, rondam «os cinco milhões».

De qualquer forma, o empresário confirma a intenção de dispensar mais de metade dos trabalhadores e justifica a situação financeira da empresa com a decisão, por parte da empresa de “factoring” (tomada de créditos a curto prazo), de suspender todos os contratos com a Beiralã. «Desde Maio que não temos qualquer receita», revela, sublinhando que até «está a decorrer, em Tribunal, uma providência cautelar» contra aquela firma. Quanto aos salários de Agosto, Rui Cardoso não consegue prever quando terá dinheiro para pagar aos trabalhadores. Também a conclusão do processo de insolvência e viabilização da têxtil não tem data prevista. «Tudo vai depender da agilidade dos tribunais», refere, dizendo não ter dúvidas de que a unidade possa ser viabilizada, apesar do seu futuro depender agora «dos credores e, em última instância, dos tribunais».

Sindicato e trabalhadores vão reunir todos os meses

Até ao final do ano, sindicato e trabalhadores – mesmo os que já não estiverem a trabalhar na fábrica – vão reunir todas as primeiras segundas-feiras de cada mês. Trata-se de «um sinal de que não vamos andar distraídos em relação a este processo», garante Carlos João.

Mas com ou sem zelo do STBA, a verdade é que, na segunda-feira, alguns trabalhadores vão mesmo para o desemprego. «Os funcionários não queriam trabalhar de borla», justifica o dirigente sindical, uma vez que a empresa vai continuar a laborar. À administração coube decidir quem fica e quem sai, sendo que «os mais novos foram privilegiados», acrescenta Rui Cardoso. Os rumores das dificuldades da Beiralã já não são de agora. «Desde o ano passado que o sindicato mantém contactos com o presidente da Câmara de Seia, Eduardo Brito, e com o IAPMEI no sentido de ir averiguando a situação», recorda Carlos João. Há alguns meses houve mesmo uma reunião com o Ministério da Economia, em que participaram Rui Cardoso e Eduardo Brito. Na altura, o empresário explicou a O INTERIOR que o objectivo seria «procurar soluções para o futuro da fábrica». Mas, em Maio último, este não escondia que a crise já tinha chegado à empresa: «Temos poucas encomendas e a crise é forte», afirmava, enquanto garantia que não devia «rigorosamente nada a ninguém, nem ao Estado, nem à Segurança Social, nem aos trabalhadores».

A Beiralã

A Beiralã emprega actualmente 208 trabalhadores e foi fundada em 1989 na Covilhã. Em 1991 adquiriu aquela que viria a ser a sua primeira unidade produtiva, que contava com as secções de tecelagem, tinturaria e acabamento. Em 1997, a Beiralã comprou o património da extinta Fisel, em Seia. Nesse mesmo ano iniciou um processo de renovação da unidade produtiva, em que foram investidos cerca de 13,5 milhões de euros em maquinaria e no aumento de sistema de controlo de qualidade e inovação de produtos. Neste momento, a unidade conta com as secções de fiação, tecelagem e tinturaria.

Rosa Ramos

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