Construir uma barragem no rio Sabor é muito mais vantajoso do que fazê-lo no rio Côa. Esta é a conclusão de um estudo de impacto ambiental levado a cabo pela Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade (do grupo EDP) e que agora se encontra em consulta pública até Fevereiro.
Segundo a edição de terça-feira do jornal “Público”, este estudo recente compara as vantagens e as desvantagens do projecto do Baixo Sabor com outro possível aproveitamento hidroeléctrico na bacia do Douro, no Alto Côa (Pêro Martins, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo). Uma comparação que não deixa lugar para dúvidas, uma vez que, tanto em impactos positivos, como negativos, o aproveitamento do Baixo Sabor é muito mais vantajoso. Este empreendimento tem contra si o facto de assentar sobre áreas naturais classificadas pela União Europeia. Contudo, o estudo releva que o Sabor é mais vantajoso em termos hidrológicos. Outra das vantagens é que a barragem ficaria pronta em finais de 2009, a tempo de contribuir para que o país cumpra as metas europeias de produção de energias renováveis. Acresce a estes argumentos que o custo de produção de um megawatt-hora (MWh) no Baixo Sabor seria de 98 euros, comparado com 125 euros no Alto Côa. A ideia de constituir uma grande reserva de água na bacia do Côa foi definitivamente projectada em 1986, mas acabou na gaveta dez anos depois com o fim da barragem de Foz Côa. Na altura, os estudos da EDP previam a construção de um conjunto de cinco aproveitamentos: Pêro Martins, Senhora de Monforte – onde actualmente existe uma mini-hídirca -, ambas equipadas, e três de captação de água, funcionando em cascata a partir de Atalaia, no concelho de Pinhel.
Tudo projectos que continuam no horizonte da EDP, mas a longo prazo. Em 2000, a opção Pêro Martins voltou à actualidade após os problemas ambientais do Sabor, relançando o debate sobre a necessidade de uma barragem para a região como forma de reconciliar as populações com as gravuras do vale do Côa, frequentemente acusadas de não contribuírem para o desenvolvimento daquela área. É que o projecto do Côa, elaborado nos anos 80, não teve em conta a condicionante Parque Arqueológico, classificado como Património da Humanidade, e que agora se interpõe entre a zona de Pêro Martins e o rio Douro, a norte de Cidadelhe, já no concelho de Pinhel. O que implica não ser possível construir um contra-embalse na foz do Côa e obriga a que qualquer barragem que venha a ser pensada como alternativa ao Sabor necessite sempre de obras subterrâneas para que o lançamento da água possa gerar mais energia e cumprir a sua função estratégica, que é fornecer água à cascata do Douro em épocas de maior necessidade. Este é, de resto, o grande argumento para a construção de uma barragem no Côa. Por outro lado, este investimento é visto pela empresa de Rede Eléctrica Nacional como um investimento «muito menos interessante» em relação à futura barragem do Sabor. É que Pêro Martins apenas permite um armazenamento de 400 milhões de metros cúbicos de água, somando-se a esta contrariedade o facto da barragem só ficar concluída, na melhor das hipóteses, em 2015, quando Portugal precisa de cumprir a directiva da União Europeia que dá até 2010 para que 39 por cento da sua produção de energia eléctrica seja de origem renovável.
Luis Martins