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Banca, banqueiros, políticos e afins

Agora Digo Eu

Paulo José Ribeiro Moita de Macedo, batizado nos meandros políticos como Paulo Macedo, ao que parece, e se o filtradores do BCE deixarem, vai ser o novo presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos.

Não sei se Paulo Macedo é o mesmo Paulo Macedo que em tempos idos foi ministro da saúde do XIXº governo constitucional. Se é, pergunta-se: não pertenceu este senhor a um governo que tinha por objetivo a privatização da Caixa? Como irá gerir o banco público, eventualmente recapitalizado, com um passivo de 3 mil milhões de euros? Vai conceder crédito a torto e a direito? Fechar balcões e despedir funcionários? Percebendo o propósito de António Costa de colocar o dedo no nariz ao desnorteado PSD e ao seu presidente, questiona-se: Que contas pode dar Coelho e Cª da gestão de quatro anos do banco público? É que isto de cuspir para ar sem saber tirar a cara tem que se lhe diga…

Então não foi Macedo, enquanto ministro, que cinicamente atribuiu crescimento positivo a um sector que quase destruiu, levando Passos Coelho a confessar nas comemorações do 35º aniversário do Serviço Nacional de Saúde que «o SNS sofreu a maior ameaça da sua história», o que fez com que António Arnaut afirmasse «o que tem valido ao SNS é a Constituição, sem a qual já não existia».

Foi ou não Paulo Macedo que deixou instalar o caos nas urgências, com falta de médicos, especialidades em completa rutura, maior carga horária, política de despedimentos e de não contratação onde 34% das despesas em saúde são pagas pelas famílias. Os grupos BES, Mello, Lusíadas e Trofa têm 60 unidades, controlando metade da saúde em Portugal. A redução de camas foi uma realidade. Menos 3.000 no público. Mais 1.500 no privado. Manutenção e incremento das parcerias público/privadas. Transferência de mil milhões do Estado para os privados e, no que nos diz respeito, trapalhadas em concursos de especialidade e a tentativa da criação do Centro Hospitalar da Beira Interior, tendo por base um miserável estudo onde entrou a régua, esquadro, o calculador de distâncias da Michelin e o Google Earth. É este o tal Macedo que vai agora gerir o banco público. O homem mudou assim tanto. Razão tem o povo quando afirma “mudam-se os tempos, muda-se a vontade”.

Portugal não teve e nem tem qualquer problema político. Os partidos mais à esquerda ou mais à direita, sozinhos ou em coligação, encontram sempre uma solução governativa. A política depara-se com uma sistemática crise que tem rosto, rostos e nome: chama-se banca.

Assim, e desde o tempo “da outra senhora”, que o sistema funciona desta forma: recordam-se seguramente do caso da herança Sommer que levou anos a resolver e das vigarices que o regime permitia aos capitalistas e banqueiros o que levou Zeca Afonso a escrever “Ó meu Portugal tão lindo/Ó meu Portugal tão belo/metade é de Jorge de Brito/outra metade de Jorge de Melo”, o que a nacionalização (com todos os boicotes conhecidos) também não conseguiu resolver. E depois veio o euro e a crise bancária, a qual custa presentemente ao Estado 30% do PIB, seguindo-se as inovações modernistas da globalização: CDO (obrigações com garantia real), CDS (permutas de risco de crédito), Short Selling (venda a descoberto e sem garantia), Swaps (troca de taxas de juro fixa por variável) ficando celebre a contratação por Maria Luís Albuquerque de uma Swap sobre os juros da divida da REFER indexados ao desempenho da coroa sueca.

CGD com 3 mil milhões de euros a menos. Novo Banco 4 mil milhões. Montepio 67 milhões. BCP com 196 milhões. Etc. etc. etc… A somar a tudo isto as falências do BPN, Banif e BPP, sendo que neste último caso, João Rendeiro, Paulo Guichard e Salvador Fezas Vidal receberam, no ano em que faliu, 6 milhões de euros cada um!!! Ricardo Espírito Santo foi dentro na operação “Monte Branco”. Oliveira e Costa por burla, fraude fiscal e branqueamento de capitais. E, quer se queira quer não, damos conta de uma visível falta do regulador (Banco de Portugal) ao percebermos todos os dias as lavagens e fugas de dinheiro para os chamados paraísos fiscais.

Resultado: Quebra de confiança, menos emprego, menos crédito, menos investimento, menos lucro e cada vez mais prejuízo, onde o exemplo de alguns altos responsáveis políticos, de todos nós bem conhecidos, nada ajuda. E das 865.936 toneladas de ouro restam nos cofres 382.540 toneladas.

Pelo que se viu, o que se vê, pelo andar da carruagem, pagam os bancos, os avôs, os pais, os filhos e, ao que parece, no cantinho à beira mar plantado ninguém consegue estancar esta catástrofe, esta autêntica bola de neve. Chegámos mesmo à encruzilhada. Que sejam homens, políticos, como Paulo Macedo a conseguirem o milagre!!!

Por: Albino Bárbara

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