O presidente da Câmara de Seia já solicitou uma reunião ao presidente do Conselho de Administração da ARA, sediada na Alemanha, para obter esclarecimentos sobre a situação da fábrica de calçado instalada em Seia há 14 anos. «Num momento de grandes dificuldades no nosso país e em particular das regiões do interior como é a nossa, é fundamental contarmos com a presença da vossa empresa de modo a evitar rupturas sociais de consequências imprevisíveis», alerta Eduardo Brito numa carta enviada na semana passada.
Na missiva, a que “O Interior” teve acesso, o autarca pede para que, «tão breve quanto possível», sejam criadas as condições para que «a tranquilidade regresse à empresa», recordando que o despedimento de 50 trabalhadores gerou, «como é natural», um clima de grande intranquilidade entre todos os trabalhadores, «que temem pela segurança dos seus empregos». Lembra também que a autarquia teve um «grande contributo» para a fixação da ARA em Seia, nomeadamente no que se refere às instalações e terrenos. «A empresa constitui neste momento, pelo número de pessoas que emprega, um factor muito importante para o desenvolvimento do concelho de Seia e para o seu equilíbrio social», sublinha Eduardo Brito, que espera ser recebido na sede da ARA nos próximos dias. Entretanto, na Assembleia da República, o deputado comunista Bernardino Soares questionou os ministérios do Trabalho e da Economia sobre as medidas que contam tomar para impedir os despedimentos em Seia. O parlamentar exige conhecer igualmente os apoios públicos, «centrais ou municipais», atribuídos à ARA e como vai o actual Governo garantir a manutenção da empresa e dos seus postos de trabalho. «A ARA age com a impunidade de quem não teme, nem do Governo, nem de outras entidades públicas, qualquer intervenção para impedir a sua deslocalização, beneficiando, aliás, de praticamente não existirem regras eficazes para responsabilizar as empresas que recorrem a estas práticas», acusa Bernardino Soares no requerimento.
A ARA de Seia foi fundada em Maio de 1991 e emprega actualmente 450 pessoas (400 após a reestruturação em curso) na produção de sapatos de senhora. A empresa está dividida em três unidades: fábrica de calçado, fábrica de componentes (solas e palmilhas) e armazém central de exportação. A sua produção diária é de 3.600 pares de sapatos, mas com estas medidas a administração espera conseguir produzir 840 pares de gáspias por dia e 4.200 pares completos. A produção de componentes é a sua principal vocação, uma vez que Seia abastece todo o grupo a nível mundial. Diariamente são produzidos 20 mil pares de solas e 15 mil pares de palmilhas, o que faz desta unidade um ponto estratégico da logística do grupo alemão. Como se não bastasse, Seia concentra igualmente todo o sector de exportação do produto acabado em Portugal, recebendo diariamente 15 mil pares de sapatos. Como seria de esperar, o mercado alemão é o principal cliente, uma vez que absorve cerca de 80 por cento da sua produção, sendo os restantes 20 vendidos no resto do mundo. O Grupo ARA-Shoes tem fábricas na Alemanha, Áustria, Indonésia e Roménia, emprega mais de quatro mil pessoas e produz anualmente cerca de 8,5 milhões pares de sapatos.
Luis Martins