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Austerlitz e Waterloo

Depois de a abertura do debate do Orçamento de Estado ter corrido terrivelmente mal a Santana Lopes, o líder do PSD foi até ao Parlamento lembrar que, “depois de Austerlitz há sempre Waterloo”.

A frase é politicamente bem achada, embora historicamente existam ‘Austerlitzs’ sem ‘Waterloos’ e vice-versa, razão pela qual a derrota de Sócrates não passa, por enquanto, de um desejo de Menezes, para o qual o contributo de Santana não foi muito positivo.

Ao contrário do desempenho de Menezes, que começou na véspera do debate com uma conferência de imprensa (totalmente apagada do ponto de vista informativo pelo fatal desastre da A23), Santana não fez, frente a frente com Sócrates, propostas concretas ou críticas pertinentes; apenas se tentou justificar. E no dia seguinte, quando finalmente propôs uma nova ‘Comissão Constâncio’, foi ainda do passado que voltou a falar, numa enredada explicação sobre o cálculo do défice nos breves dias em que, por acaso da história, foi primeiro-ministro.

Já Menezes, num almoço no Parlamento, referiu situações concretas que não condizem com esta espécie de ‘oásis’ em que o Governo dá a ideia de vivermos: os números do desemprego são, de facto, impressionantes, sobretudo se omitirmos que a necessária reestruturação da economia portuguesa produziria sempre efeitos destes.

Para o caso concreto do debate orçamental interessa, porém, ressaltar esta diferença entre Santana e Menezes para concluir que, provavelmente, e ao contrário das expectativas, o líder do PSD reforça-se ao deixar a frente parlamentar nas mãos do último primeiro-ministro do PSD. Com o seu estilo próprio, Santana é uma figura que não compromete Menezes e que, sobretudo, fica a perder na comparação. Por outro lado, Sócrates, por muito que não queira, é obrigado, por dever regimental, a discutir com Santana de 15 em 15 dias, com tudo o que isso acarreta de desgaste, por muito bem que lhe corram as sessões.

Menezes, por fora, tentará fazer-lhe o que fez no PSD a Mendes: minar-lhe o terreno. Se vai ou não ser capaz, o futuro dirá, mas a preparação do ‘Waterloo’ de Sócrates vai ser feita com pequenos e discretos (e por isso pouco desgastantes) passos.

E se nunca atingir o seu ‘Austerlitz’ é já certo que todos os ‘Waterloos’ serão de Santana.

Porque este, em linha com o que Luís Filipe Menezes referiu quarta-feira no Parlamento, depois de ter tido o ‘Austerlitz’ de ser primeiro-ministro, há-de compreender que só lhe resta coleccionar ‘Waterloos’.

Por: Henrique Monteiro

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