Mário Soares esteve na região em outubro de 2015 e o motivo foi a entrega da chave da cidade da Covilhã e da medalha de ouro de mérito municipal por ocasião dos 145 anos da cidade.
Neste regresso, o antigo chefe de Estado não prestou grandes declarações aos jornalistas, tendo apenas dito que a situação política do país – Passos Coelho tinha ganho as legislativas, mas a esquerda estava em maioria no Parlamento – «é uma confusão efetiva, que tem de ser resolvida com inteligência». Cinco anos antes tinha vindo à Guarda, a cidade onde assistiu pela «primeira vez» a um comício político, revelou em março de 2010 numa conferência sobre o centenário da República a convite do Governo Civil da Guarda. Na altura, Portugal familiarizava-se com o Programa de Estabilidade e Crescimento, que, para Mário Soares, era «necessário» para que «o Banco Central Europeu pudesse dizer muito bem», porque «eles só querem saber se o défice sobe ou não sobe». O histórico socialista acrescentou também que o PEC «foi o que podia ser» e considerou que o documento «pode não ser tão satisfatório como nós gostaríamos», mas «não é uma afronta» aos pobres e «vai ser melhorado».
Na sessão, o antigo chefe de Estado defendeu que era «preciso mudar de paradigma» e que «o capitalismo tem que deixar de ser o capitalismo de casino, como foi nestes anos passados, o que levou a esta crise». Mais complicada foi a passagem pela cidade mais alta na campanha para as presidenciais de 2006. Em janeiro desse ano Mário Soares foi novamente à luta e concorreu contra Cavaco Silva, mas teve uma jornada difícil na Guarda. À porta dos Paços do Concelho, que tinha inaugurado em 1993, foi abordado por uma idosa que o acusou de ter pisado a bandeira portuguesa «em Espanha». A situação exasperou o socialista ao ponto de pedir à interlocutora que se identificasse para a levar a tribunal: «Isto é uma pouca vergonha! Ela diz que viu em Espanha, quando os gajos que inventaram isto dizem que era em Londres», reagiu Mário Soares.
Nessa altura, já não houve banhos de multidão e não fossem os funcionários da autarquia e a receção ao histórico socialista teria sido um fiasco monumental. O conforto só chegou na sala da Assembleia Municipal, onde evocou João Gomes, Carvalho Santos e «o meu amigo» Abílio Curto, então na prisão e que escolheu para a sua Comissão de Honra distrital. «Está numa situação difícil da sua vida», referiu, admitindo que «as pessoas podem cometer erros, mas têm direito à sua reabilitação».
Mário Soares foi até agora o Presidente que concentrou mais votos (70,4 por cento em 1991, quando concorria para o segundo mandato com o apoio também do PSD). Em 1980, Ramalho Eanes foi escolhido por 56,47 por cento dos votos expressos. Em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito com 52 por cento dos votos expressos.
Luis Martins