«Andar aqui a pé é quase como atravessar uma guerra». Os comerciantes da Praça Velha, na Guarda, estão “pelos cabelos” com as obras de requalificação da área, queixando-se de graves prejuízos desde o arranque da empreitada, em Outubro do ano passado. A última previsão do PolisGuarda para conclusão da intervenção aponta para o final deste mês, mas, perante as várias datas avançadas, os comerciantes já não acreditam e temem que os trabalhos se prolonguem por muito mais tempo.
No restaurante “O Monteneve”, localizado mesmo em frente à Sé Catedral, o cenário é bastante desolador: «Desde que começaram as obras que não temos tido praticamente ninguém. Temos quase 90 a 95 por cento de pessoas a menos. Há dias em que não servimos um único almoço», garante, amargurado, Ismael Pinheiro, gerente do estabelecimento. Até mesmo os clientes mais fiéis se afastaram. «É evidente que se as pessoas não têm oportunidade de passar com os carros, automaticamente, deixam de cá vir e procuram outros sítios», constata, e, mesmo a pé, os acessos ao restaurante estão «péssimos e há muito pó», realça. E com uma quebra tão grande no número de clientes, torna-se «bastante difícil» manter o estabelecimento em actividade. «Neste momento estamos a tirar de outros lados para poder pagar ordenados e aguentar o “barco”, porque isto é mesmo uma catástrofe», garante. Assim, só mesmo com «muito sacrifício e esforço» tem sido possível manter o mesmo número de funcionários e a casa aberta. Quanto ao futuro, depois das obras de requalificação da Praça estarem concluídas, Ismael Pinheiro pede a Deus para que o restaurante possa «retomar o ritmo normal».
No caso da Electro-Santiago, uma das lojas de electrodomésticos localizada em plena Praça Velha, vem-se registando uma descida «muito acentuada» no negócio, da «ordem dos 50 por cento», adianta a proprietária, Maria dos Anjos. «Mesmo que queiram vir cá, as pessoas não têm hipóteses porque não há acessos. Isto está completamente cortado», lamenta, dizendo que «há muita gente que chega ao pé do banco Millennium e volta para trás». Apesar de uma redução tão grande no volume de vendas, a Electro-Santiago também continua com os mesmos trabalhadores. «Não temos o direito de os pôr na rua por causa das obras. Deveria era haver apoios aos comerciantes, pois acho que o Polis está a proceder muito mal porque não se justifica as obras estarem a decorrer há quase um ano», considera. O desalento é grande e mesmo depois da intervenção ficar pronta, Maria dos Anjos duvida que os clientes “perdidos” regressem. «As pessoas vão-se desabituando e passam a ir a outro lado», receia. Em relação à conclusão das obras, a comerciante ironiza quanto à última data avançada: «Eles disseram em finais de Junho, mas não disseram de que ano… Tal como isto ainda está, deve ser de 2006», completa.
Também Letícia Jorge, da Knight Park, que fica perto da entrada principal da Sé, não acredita «minimamente» que as obras estejam concluídas até 30 de Junho. «Sinceramente só acredito que estejam prontas até ao final do ano, porque os trabalhos não andam lá muito depressa», frisa. O negócio nesta loja de roupa está «muito mau» devido à falta de acessos e andar a pé na zona «é quase como atravessar uma guerra», garante. A sua loja abriu em Dezembro, numa altura em que as obras já estavam em curso, embora o trânsito ainda fazia ligação da Rua 31 de Janeiro para o Largo Dr. Amândio Paúl. Contudo, cerca de mês e meio depois «cortaram todo o trânsito e aí o negócio ficou ainda pior», assume. Recorde-se que a descoberta de algumas ossadas humanas, no final do ano passado, em frente à Mediateca VIII Centenário provocaram um abrandamento, e o consequente, atraso nos trabalhos.
Ricardo Cordeiro