1- Donald Trump declarou guerra comercial à China, anunciando a imposição de novas tarifas alfandegárias sobre as importações chinesas, um pacote de medidas que pode atingir 60 mil milhões de dólares por ano. Trump quer assim proteger os empregos das indústrias mais prejudicadas pelas importações chinesas. O problema é que muitos desses sectores norte-americanos não são competitivos ou estão em decadência. Por outro lado, se houver resposta chinesa – o que é de esperar porque Pequim avisou que retaliaria contra políticas protecionistas – as empresas americanas, e respetivas exportações, que operam na China sairão prejudicadas.
No mesmo dia, Trump revelou que a anteriormente anunciada aplicação de tarifas sobre as importações de aço e alumínio ao conjunto dos Estados-membros da União Europeia fica suspensa até 1 de maio. Bruxelas ganhou tempo para negociar mas Juncker afiança que não será suficiente para um acordo global. Ao anunciar para logo depois isentar a UE, Trump criou uma confusão que fortalece o lado negocial de Washington e que tenderá a promover a divisão no seio da Europa. Para já, a UE mostrou-se unida. Ver-se-á como vão reagir os vários países europeus se Trump retirar a isenção.
O sucesso das medidas é duvidoso mas os efeitos são perversos. A China detém boa parte da dívida pública dos EUA e é a maior compradora de títulos soberanos americanos. Se as poupanças chinesas forem prejudicadas por uma menor competitividade do sector exportador haverá um aumento dos preços na China e, por conseguinte, menor capacidade para gerar aforro. Logo menos aquisição da dívida soberana que os EUA precisam emitir para financiar o orçamento federal.
Uma guerra comercial de espectro global também se repercutirá na degradação da conjuntura favorável que se vive na Zona Euro, a melhor desde a criação da moeda única. Podendo também abrir a porta a uma nova crise financeira. As políticas de Trump são tudo menos neutras.
2- A discussão em torno da polémica curricular (deixemos de lado o recorrente e inaceitável truque da morada fiscal) do ex-secretário-geral do PSD mereceu longas e demoradas análises que me escuso atender. Porque mais do que para facilitar o acesso a equivalências em sede de progressão académica, Feliciano Barreiras Duarte embelezou o currículo com a referência à Universidade da Califórnia, em Berkeley, porque é um bom português. E o bom português gosta de doutores, mais ainda dos doutores mestres e doutorados, de preferência de bata branca. Eu próprio já fui tratado por doutor por pessoas que me viram crescer e que sempre me trataram por tu. Ao pedido para que o não façam, essas pessoas esclarecem sem deixar margem para dúvidas: «Estudaste para ser doutor e devo tratar-te como tal». No país dos doutores, o importante não é o que se faz enquanto doutor, é ser-se doutor. Para Barreiras Duarte, ao contrário de Sócrates ou Relvas, não foi a posse do grau académico que motivou a aldrabice, antes uma notória vontade de ser notável. Uma vontade saloia.
Por: David Santiago