Estão hoje a decorrer as eleições francesas. Muitas pessoas se interrogam sobre o que vai acontecer à Europa (UE), ao euro e à região após o 5 de Maio. As expectativas estão altas. As sondagens dão o sr. François Hollande como grande vencedor sobre Sarkozy. Se tal não acontecer muita gente ficará surpreendida. Todos já conhecemos o papel nefasto de Sarkozy a amplificar as decisões da chanceler Merkel – uma autêntica ditadura alemã na UE – e as consequências para a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia, e Espanha (Spain), conhecidos pejorativamente como PIGS, mas também os outros estados membros da UE, incluindo a própria Alemanha (basta ver o nível da sua dívida), cujos bancos e fundos de investimento, como é sabido, têm feito um grande negócio com esta dívida, enriquecendo na medida inversa do empobrecimento dos outros, particularmente dos países da bacia mediterrânea com juros cobrados na concessão dos apoios negociados pela troika (FMI, UE, BCE). Estes países da bacia mediterrânica não são tão preguiçosos como os europeus do norte e centro da Europa têm feito crer antes foram ingénuos após a adesão à UE ao acreditar que os dinheiros que vinham de Bruxelas e Berlim mais os turistas desses países – como estes quiseram convencer-nos – eram mais que suficientes para empurrar as economias do sul e criar empregos remunerados ao nível dos que se recebiam no Luxemburgo e Alemanha, mesmo desmantelando os sectores pouco produtivos dos países da corda da UE: agricultura, pecuária, floresta, pescas e indústria transformadora. E estes até acreditaram nos primeiros anos que a convergência com a média da UE era uma realidade pois que os dados divulgados a isso conduziam! Mas, infelizmente, isso foi sol de pouca dura.
Mas voltemos às eleições francesas. Estamos convencidos que depois de os socialistas e sociais democratas terem sido corridos de praticamente todos os governos dos países da Europa – por serem eles os detentores do poder quando eclodiram as crises do subprime ou imobiliária, financeira e económica pós 2007 – a favor dos centristas e partidos liberais e conservadores da UE, que estas eleições vão marcar o regresso dos partidos da esquerda moderada (socialistas e sociais-democratas) aos governos dos países da Europa não só por se ter percebido que os que os substituíram, ao contrário do que afirmaram, não tinham solução nenhuma para acudir à crise, antes agudizaram os sintomas dessas crises (aos níveis da economia e do emprego), mas sobretudo porque ao defenderem o regresso ao crescimento e ao emprego estão a tocar em pontos muito sensíveis destes países (a crise económica, muitas vezes já depressão, e a crise no emprego) cujas populações se vêm a braços com taxas de desemprego nunca vistas nestes últimos quase 70 anos (Espanha=24.1%, Grécia=21.7%, Portugal=15.3%, Irlanda: 14.5%, França e Chipre: 10%, Itália: 9.8%, Reino Unido: 8.2%, Bélgica:7.3%), flagelo que afeta praticamente todas as famílias europeias tal é a sua dimensão. A promessa de relançar a economia, da criação dos eurobonds pelo BCE, de o BCE financiar diretamente os Estados e não os bancos – que têm sido financiados a 1% para estes depois financiarem os Estados a taxas que podem chegar aos dois dígitos (encaixando depois lucros 5%, 6%, 7% ou 8% à custa dos contribuintes), ajudando os Estados a libertarem-se do garrote financeiro imposto pela troika que os asfixia cada vez mais, e de criar milhares de empregos nesta estagnada UE são vistas pelos europeus como a única tábua de salvação que lhes resta e que lhes pode valer. E nisso estão cheios de razão porque se não for pelo crescimento da economia, pela criação de empresas e de empregos e pelas exportações como gerar recursos que possam ajudar a combater o défice público e a dívida soberana excessivos que não nos deixam respirar nem deixam respirar em particular os funcionários públicos que foram eleitos pelos liberalizantes governos no poder como os bodes expiatórios de todos os males?
Chegados a este ponto pode perguntar-se: mas o que é que estas eleições têm que ver com o nosso país e a nossa região? A verdade é que elas têm muito que ver com um e outra: o que seria do nosso país e da nossa região se a nossa crise continuasse a aumentar? Se a crise em França lançasse muitos dos nossos conterrâneos emigrantes para o meio da rua? Se os espanhóis fizessem o mesmo em relação aos milhares de portugueses destas regiões que ainda lá permanecem apesar do recessão? Não viriam muitos deles para Portugal, para a beira interior, para os nossos concelhos? Onde é que um filho se refugia quando tem dificuldades na vida, não é na casa dos pais, e na sua própria terra? E já se pensou no que isso significa para estas depauperadas regiões? Em nossa modesta opinião o que está em jogo é deveras importante para a Europa (UE), para o nosso país e para a região porque estamos convencidos que pela primeira vez estão criadas condições para que a atividade económica seja relançada, para que se crie emprego e se reduza o desemprego galopante, para que se ajude os países da orla europeia a sair da crise; pela primeira vez se pode chamar à razão a sra Merkel e mais alguns seguidores cegos que engordam cada vez mais com os juros que recebem destes países da periferia e com o dinheiro das vendas que as empresas do centro industrializado da UE, sobretudo alemãs, fazem a todos os países da orla europeia e mediterrânica. Se não acredita vá aos hipermercados e veja os códigos dos produtos expostos para confirmar que poucos são aqueles que têm o código português (#056). E enquanto muitos destes produtos lá estiverem as nossas batatas, a nossa fruta, o nosso leite, as nossas carnes, os nossos queijos e enchidos apodrecem nos armazéns, as nossas empresas empobrecem e morrem, as nossas regiões ficam sem os poucos jovens que ainda lhes restam, envelhecem cada vez mais e desertificam. E depois os índices de desenvolvimentos dos nossos concelhos (os índices de qualidade de vida em sentido lato) regridem em relação às regiões da Europa e mesmo em relação às regiões e concelhos de Portugal.
PS: No momento em que este texto foi terminado já se conheciam os resultados finais das eleições francesas e a vitória de François Hollande, mas tudo o aqui escrito mantém a sua validade pelo que não introduzimos qualquer alteração ao texto anteriormente elaborado.
José R. Pires Manso, Professor da UBI e coordenador do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social (ODES)