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As eleições e a crise

Crítica construtiva

Sempre que se aproximam períodos eleitorais, é frequente ouvirmos os dirigentes partidários defenderem a “abertura à sociedade” ou a necessidade de “auscultar a sociedade civil”. Pelo meio vão surgindo alguns exemplos positivos, como é o caso actualmente do PS que escolheu Vital Moreira para cabeça de lista às eleições europeias, ou a nível local, a escolha de Crespo de Carvalho para candidato à autarquia guardense. Destes “independentes”, espera-se que sejam mais pró-activos e que não fiquem reféns dos partidos que os apoiam, como frequentemente acontece.

Contudo, passadas as eleições regressa o autismo dos dirigentes políticos e acentua-se o vácuo criado entre cidadãos e governantes que faz com que o povo olhe os políticos com má-vontade e desconfiança. Estes, por viverem das muitas benesses e mordomias do Estado, sentem-se cada vez menos obrigados a dar satisfações à sociedade e mais a este Estado que lhe presta tantos favores.

Que temas têm sido genuinamente discutidos, apresentados e debatidos entre os candidatos dos partidos políticos e a sociedade? Poucos ou nenhuns: o que se vê e ouve é antes um amontoado de frases feitas, denúncias, insultos entre candidatos, a guerra pela vitória na eleição. A política verdadeira, aquela em que se visa a melhoria e o avanço do país, é esquecida.

Na verdade a culpa é nossa: cada povo tem os políticos que merece e que em democracia escolhe. Achamos que política se faz apenas em Lisboa, que não somos responsáveis pelo regime, não nos damos conta que a manutenção da democracia é, acima de tudo, garantir a liberdade e participação activa nas decisões que influenciam as nossas vidas.

Sendo este um ano de várias eleições, marcado pela crise internacional, o resultado dos vários actos eleitorais pode ser tão imprevisível quanto a duração e extensão da crise que vivemos. O pessimismo que nos invade e a desilusão que os políticos nos provocam, pode fazer com que o eleitorado se desinteresse das eleições, em particular se o discurso político não for mobilizador, se os líderes não forem capazes de nos devolverem a esperança e se os efeitos da crise não puderem ser atenuados, pois achamos que as eleições nada resolvem.

Sou daqueles que também pensa que a abstenção ou o voto em branco deveria ser mais utilizado como forma de expressão e de protesto por todos os que, querendo exercer o seu dever de cidadania, queiram expressar o seu protesto pelas escolhas que lhe são oferecidas. Contudo, na verdade só os votos a favor contam, e estou convencido que só no dia em que estes votos representarem uma percentagem muito significativa, os políticos acordarão e alguma coisa mudará.

Até lá, e para que a política seja credível aos olhos da população temos que afastar os desonestos, os que vão para a política por interesses e não para defender a causa pública, os que exercem o poder pelo poder e ainda aqueles que sendo pessoas honestas, raramente emitem a sua opinião e que se deixam vencer por aqueles que defendem outros interesses.

Por: Constantino Rei

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