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As cunhas e o resto

Menos que Zero

O Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) descobriu quatro casos de alegado favorecimento na colocação de professores, e lançou imediatamente o assunto para a fogueira mediática. Os órgãos de comunicação social agarraram a oportunidade e, num abrir e fechar de olhos, a opinião pública tomou conhecimento de mais um aparente esquema de tráfico de influências.

Esta autêntica “caça à cunha”, encetada pelo sindicato, aparenta ser um acto da mais elementar justiça. E é. Mas também me parece ser um acto profundamente demagógico. É verdade que o sistema deve ser aperfeiçoado para que situações destas não se repitam, mas não é menos verdade que este caso é apenas a ponta do iceberg de um sistema que mete água por todos os lados.

Detectadas as pretensas fraudes, o sindicato apontou armas ao Ministério da Educação. E com razão, mas se quer manter esta toada justiceira, o sindicato tem de atirar noutras direcções. Porque nesta história há mais culpados que, por acaso, estão do outro lado da barricada, do lado dos professores. Veja-se, por exemplo, a habilidosa gestão de horários que alguns Conselhos Executivos fazem. O esquema é simples: manda-se para concurso um horário incompleto ao qual ninguém concorre, excepto o amigo que foi previamente avisado. Depois do amigo estar colocado no lugar, completa-se o horário com umas horas de apoio à biblioteca ou à sala de informática e aqui temos um horário completo que não foi para concurso nacional.

E também há a solução mais radical: guardar os horários na gaveta, não os enviando para concurso nacional. Depois é só colocar o amigalhaço no lugar.

Aparentemente, a situação vai mudar no próximo ano, graças à introdução de um sistema mais transparente. Mas também este ano o sistema de colocação prometia ser melhor e, afinal, ficou tudo na mesma.

A seriação dos candidatos é outro bico-de-obra. O critério que serve de base para a organização das listas é a média final de licenciatura, à qual é somado um valor por ano de serviço (só com efeito no ano lectivo seguinte). O problema é que os alunos oriundos do ensino superior privado apresentam sempre médias mais altas. Muito mais altas. São melhores alunos? Não creio. Por isso me agrada a proposta que sugere uma seriação feita com base na média final, corrigida com a nota de uma prova nacional a realizar por todos os candidatos. Dependendo do tipo de prova, penso que esta proposta poderá corrigir um sistema que se baseia numa falsidade.

Por tudo isto, e uma vez que o sindicato está com a mão na massa, parece-me que este poderá ser o momento certo para que, de uma vez por todas, se implemente um sistema mais justo para todos os envolvidos no processo.

Por: João Canavilhas

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