Foi através da última reportagem do “Público”, relativa aos famosos trabalhos de Sócrates na Guarda, que fiquei a saber ser também da sua autoria um prédio, plantado a cerca de vinte metros da minha casa, de três andares, direito e esquerdo, mais rés-do-chão, que não se sabe se destinado a garagens, se a comércio, o que é também, como sabemos, uma imagem de marca do autor.
A fazer fé no que o autor, assumido, do projecto voltou a garantir, também este foi feito “pr’amigos”, ou seja, “à borliú”. Esta simples afirmação leva-nos a algumas cogitações interessantes. O que aconteceria a um engenheiro que num determinado ano, aqui ou em qualquer outro ponto do país, elaborasse meia dúzia de projectos que dessem origem a outras tantas construções e dissesse ao fisco que tinham sido para amigos, e a respectiva declaração de IRS não relevasse a contraprestação pecuniária correspondente ao serviço prestado? Garanto-vos que eu não gostaria de estar na sua pele.
Ora, Sócrates, em regime de exclusividade na AR, realizou, para o mesmo período de tempo, pelo menos o dobro dos projectos aqui apresentados a título de exemplo. Outra constatação interessante é que Sócrates, a viver na Covilhã, não tinha ali amigos. Tinha-os concentrado todos na Guarda, sendo que as suas amizades passavam, sobretudo, por empreiteiros e emigrantes, o que também não deixa de ser curioso.
O que se passou aqui na Guarda, apesar de, eventualmente, prescrito em termos legais, é, em termos morais, porque é, em última análise, de um caso de alegada corrupção que se trata, mais que suficiente para levar à resignação de qualquer figura que ocupasse um cargo público de alguma relevância. Acontece que Sócrates é primeiro-ministro e não só não se demite, como ainda reage sarcasticamente quando confrontado com os resultados da investigação e algumas perguntas incómodas do jornalista José António Cerejo, apresentadas por escrito, mas a que Sócrates se recusou responder.
Este caso é apenas mais um episódio de uma longa série, a que o próprio Sócrates resolveu chamar de “Campanha Negra”, título bem sugestivo, uma vez que a figura que encarna é, de facto, tão escura e obscura que só poderia ter lugar num qualquer governo ditatorial da África ou da Ásia. Nunca numa democracia europeia.
Manuel dos Santos, Guarda
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