Tão ou mais fulgurante quanto o fecho da maternidade da Guarda foi a sua reabertura há uma semana atrás, um dia depois de ter sido encerrada pelo director clínico do Hospital Sousa Martins. 24 horas bastaram para pôr a nu as divergências do Conselho de Administração (CA) e se José Cunha assinou o despacho que fechou a valência por causa da exigência dos obstetras de um médico neonatologista em presença física permanente, Isabel Garção abriu-a com pompa, circunstância e directos nos telejornais alegando que o pediatra vai ficar «em permanência» mas no hospital. Um preciosismo da sintaxe que pareceu resolver o problema. Até agora.
E enquanto a directora do hospital foi explicando que a solução tinha surgido da «concertação de esforços» entre a Pediatra e a Obstetrícia, no âmbito da qual um pediatra se disponibilizou de imediato para apoiar a maternidade, o director clínico era um homem visivelmente nervoso. Às três da tarde, José Cunha ainda não tinha conhecimento oficial da reabertura da valência e disse a “O Interior” sentir-se «desautorizado», uma vez que a sua decisão foi baseada num problema «exclusivamente técnico de assistência a parturientes». Pior, o director clínico referiu ter informado os obstetras de que não assumiria «qualquer responsabilidade» nos actos clínicos praticados na maternidade. Nessa altura, Cunha entendia que essa não era a «melhor solução» e admitia que uma «nova crise» poderia ocorrer na maternidade dada a carência de especialistas para apoio a essa valência. «Como garanto o funcionamento da Maternidade e da Urgência Pediátrica com apenas três médicos», questionava então, desconhecendo ainda as movimentações do presidente da ARS do Centro para assegurar o contributo de mais pediatras para o Sousa Martins. Um cenário confirmado na última segunda-feira.
Numa conferência de imprensa improvisada para o final da tarde de quarta-feira, Isabel Garção elogiou os «esforços» de obstetras, pediatras e anestesistas na resolução do impasse com um acordo que prevê que, em caso de parto, o pediatra de serviço no hospital seja chamado a apoiar a maternidade. Mais, a directora demarcou-se de José Cunha dizendo que o fecho daquela valência tinha sido decidido com base «num parecer» do director clínico. Por explicar ficou entretanto o facto dos obstetras terem, em 24 horas, deixado cair a exigência de um pediatra em presença física permanente, passando a contentar-se com a presença no hospital. Contudo, a última segunda-feira foi outro dia para a maternidade, com Fernando Andrade a trazer algumas boas novas apesar da sua solução ser também provisória para o problema (ver texto ao lado). Recorde-se que o recurso a pediatras do Hospital de Viseu já tinha sido usado pelo seu antecessor há três anos atrás, mas o sistema acabou por ruir por causa da carência crónica de especialistas na Pediatria guardense e da entrada em colapso do serviço viseense.