Neste sentido foi criado em 1996 um projecto que usa a engenharia dos tecidos como objecto de criação artística. O “The Tissue Culture and Art Project” utiliza a biotecnologia como instrumento para criar peças de arte. A engenharia dos tecidos é uma tecnologia que procura criar tecidos, ou mesmos órgãos humanos. Esta técnica envolve a construção de biopolímeros artificiais degradáveis em células, que se encontram imersos numa solução rica em nutrientes, colocados em condições óptimas de crescimento.
Esta avançada tecnologia assemelha-se a um “útero artificial”, utilizado para fazer crescer novos órgãos, produzir extensões noutros, e mesmo promover a adição de novos tecidos, onde a componente estética é tida muito em conta.
A combinação e manipulação de tecidos, não necessariamente do mesmo organismo, permitem a “construção” de formas específicas, oferecendo uma possibilidade de produção de Objectos Semi-Vivos.
Uma das primeiras “construções” foi a recriação com tecidos semi-vivos das Bonecas de Recreio da Guatemala. Os índios da Guatemala contavam às suas crianças uma velha história: “quando tiveres problemas conta-os às tuas bonecas. Todas as noites, a boneca escolhida resolve o problema. Mas recorda – tens apenas 6 bonecas, só podes ter 6 problemas por dia.” Estas novas bonecas são conhecidos como “Worry Dolls”.
A principal característica destas entidades situa-se no facto de existir nelas uma natureza dualística, isto é, observa-se uma coexistência entre o natural versus manufacturado por um lado, e o animado versus inanimado, por outro.
Ainda inserido no “The Tissue Culture and Art Project” existe o projecto “Disembodied Cuisine” que procura intervir e ou criar sistemas vivos que possam vir a servir de alimento. Também nestas “construções” existe uma forte componente artística. Numa destas actividades, células de tecido ósseo são colocadas em polímeros degradáveis para promover a criação de “bifes” semi-vivos, como objectivo de entrarem na dieta humana.
Estas “construções” alteram todo a nossa percepção de natureza construída ao longo dos tempos, na medida em que têm como objectivo atribuir um significado simbólico a uma nova classe de objectos/seres.
Por: António Costa
