Arquivo

“Aquilo” volta à cena

Depois de um período mais conturbado, grupo de teatro da Guarda está de regresso ao palco com duas peças

A definição de teatro «ainda está por inventar» para António Godinho, presidente do Aquilo Teatro, para quem não há um autor ou peça que simbolize a arte de representar. A realidade do teatro na Beira Interior resume-se ao amadorismo, apesar do Aquilo Teatro estar perto de subir de escalão e assumir-se como grupo profissional, isso ainda não aconteceu. «Por razões estruturais, é completamente impossível», ressalva o presidente.

António Godinho não acredita que o interior seja um obstáculo à profissionalização, dando como exemplo a zona raiana espanhola onde existem grupos profissionais: «A interioridade, às vezes, é mais uma desculpa», acrescenta, apontando como entraves à criação dessas estruturas profissionais questões de ordem financeira e a falta de políticas culturais, como «subsídios para a fixação de artistas ou técnicos». Além de que deve existir «um núcleo duro», ou seja, um conjunto de pessoas empenhadas, em termos pessoais e artísticos, refere o responsável. O presidente do Aquilo acredita que o novo Teatro Municipal da Guarda venha abrir «novas portas e horizontes». Mas, para já, há uma preocupação dos responsáveis «em criar uma rede, com parâmetros de qualidade, com as várias colectividades ou grupos de teatro», adianta Godinho. O que traz «vantagens a duplicar», quer para a nova infraestrutura, como para as associações que dispõem de um novo palco de promoção. Quanto aos rumores do Aquilo estar “morto”, António Godinho discorda totalmente e justifica-se com «a situação financeira gravíssima» vivida pelo grupo e que já se arrasta há alguns meses. Até porque a colectividade continua a desenvolver actividades, como o Mercado Negro, as sessões de curtas-metragens, em parceria com o Cine-Clube, ou o Festival de Teatro da Guarda. «Mas as iniciativas que realizamos têm que se adaptar às possibilidades», explica o responsável.

Apesar de não conhecer de perto os 20 anos do Aquilo Teatro, sabe «a realidade do princípio e a dos últimos anos» e, por isso mesmo, acredita que a cooperativa está «só a atravessar uma fase cíclica», anunciando melhores tempos. Entretanto, o Aquilo vai regressar à cena com novas peças. Já na terça-feira estreia na sua sede “O Belo Indiferente”, que estará em cena até dia 31. O outro espectáculo intitula-se “A Saga de Zacarias contra a Morte do Diabo” e subirá ao palco do pequeno auditório do Teatro Municipal da Guarda. A peça, encenada por Moncho Rodriguez, tem estreia marcada para 4 de Junho. António Godinho perspectiva que a nova sala de espectáculos vá viver no início «um período de estado de graça» e que depois o público diminua, à semelhança do que aconteceu em Bragança, por exemplo. Mas para não se cair no mesmo erro, «os responsáveis têm que conquistar e fidelizar os públicos», alerta o presidente do Aquilo, que, no entanto, está optimista em relação ao novo espaço cultural. E lá, até gostaria de rever o “Baal”, de Brecht, interpretado por Mário Viegas, como viu há 20 anos atrás em Lisboa. O problema é que ainda há na região um longo caminho a trilhar na cultura: «Não pode ser só cultura enlatada, ou seja, para encher uma agenda», sublinha.

Patrícia Correia

Sobre o autor

Leave a Reply