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Apresentações proverbiais

Extremo Acidental

Paulo Rangel apresentou o programa eleitoral da coligação Aliança Portugal em 101 tweets, ou tuítes, para os sá-nogueiristas do idioma. Sendo eu um tradicionalista sem conta de facebook nem twitter – mas sem a fobia do marinho-pintismo – teria preferido outra forma de apresentar o programa da coligação social-democrata-cristã.

Para simplificar, gostaria de propor o uso deste tríptico – social-democrata-cristã – para designar a união dos partidos que apoiam o Governo, já que alberga num único nome as correntes social-democratas, social-cristãs e democratas-cristãs, além de acomodar de uma assentada a sociedade, a democracia e o cristianismo. Talvez a utilização destes três conceitos possa criar confusão junto do Executivo, onde haverá quem julgue que as sociedades são todas anónimas, que o princípio da igualdade perante a lei é o que admite às empresas que é igual cumprir ou não cumprir a lei, e que a transubstanciação é a acção através da qual a eucaristia governamental transforma exportações em comida no prato.

Para a apresentação do programa eleitoral, a minha preferência seria obviamente a escolha de 101 ditados populares que ilustrassem o pensamento europeu da coligação social-democrata-cristã (repetir muito, para ver se pega).

Deixo aqui alguns exemplos de provérbios programáticos e os seus destinatários – a lista completa fica à disposição dos sociais-democratas-cristãos por uma modesta avença, paga à unidade.

“Lembra-se mais o credor que o devedor” (para o FMI)

“É boa e honrada a viúva sepultada” (para José Sócrates)

“É como os da Mealhada: o que dizem à noite de manhã não vale nada” (para donos de restaurantes que se enganam a contar doses de leitão)

“Não há domingo sem missa nem segunda sem preguiça” (para Belmiro de Azevedo)

“A caridade dos outros é gostosa, mas a nossa é custosa” (para os alemães)

“Muito se alegra o lobo com o coice da ovelha” (para o programa cautelar)

PS: Todos os provérbios usados foram encontrados na exaustiva compilação de provérbios portugueses de Manuel Madeira Grilo, “Dicionário de Provérbios”. Por sugestão do autor, que no prefácio exorta os leitores a fazer a sua interpretação e a encontrar o melhor caminho para descobrir o que cada provérbio encerra, escolhi o caminho – torto, como é costume – para uma interpretação que não sendo político-ideológica acaba por ser político-idiota.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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