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Aos professores

Sim, a vós, meus pares, cujos esforço, probidade profissional, dedicação, devoção, escrúpulo, sentido de responsabilidade e demais virtudes que vos ornam conheço, por décadas de trabalho, sim, a vós é que me dirijo neste preciso momento. O imperativo de me exprimir, me dirigir a vós, é o corolário de uma afronta.

A Educação não existe por existir um Ministério denominado da “Educação”; tão-pouco por existirem universidades. Qualquer destas entidades pode ser condição necessária para tal desidrato; mas nem uma condição necessária é, por si só, suficiente, nem o mundo da política é, necessariamente, o da Educação.

A Educação, desde logo, é uma idiossincrasia enformada pela delicadeza e pelo saber, pelo respeito pelo outro e pelo esforço da alteridade, pela subtileza e pela distância da amabilidade, pela…

Para conhecer o que foi o Primeiro-Ministro na última legislatura bastou-me, há já bons pares de anos, um texto seu no “Jornal do Fundão”. Nele dirigia-se ao Presidente da Câmara da Covilhã em termos de uma pungente superficialidade. A sua presença no Governo nos últimos quatro anos não podia, assim, produzir nada de bom. Explico-me melhor. Não era de alguém sem currículo que o nosso País poderia obter algo. E, sem mais delongas porque o espaço tal não consente, apenas duas notas: a sua licenciatura em Engenharia integra hoje o anedotário nacional; e, antes disso, o meu modelo de homem e de político é aquele que o Humanismo impregna.

Falar de Humanismo é remeter para Hélade, para essa perene fonte de energia espiritual, de que um dos nomes maiores dentre os seus estudiosos é o alemão Werner Jaeger, o autor dessa monumental Paideia, que tanto Rocha Pereira em Coimbra, como Manuel Antunes em Lisboa, nunca se cansaram de citar.

Este é um mundo desconhecido para José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa e o motivo por que colocou na pasta da Educação Maria de Lurdes Reis Rodrigues. Poderá um general prosseguir um combate se o Leitmotiv da sua conduta é a afronta dos seus subordinados? – Não. Absolutamente não. Sócrates teve quatro anos para defenestrar a senhora, mas, ao invés, sempre a apoiou; e foi o vexame que recebemos nas eleições europeias que o fez arrepiar caminho (um semanário de finais de Julho informava que a senhora que passou por ministra da Educação já “tem guia de marcha”). Como, manifestamente, Sócrates não tem outro objectivo vital que não seja perpetuar-se no poder, não foi a incompetência, má-criação, depreciação e ostracização dos professores que o fez mudar de táctica. Sócrates é, assim, uma excelente ilustração do que os professores devem repudiar.

Disse, numa Reunião Geral de Professores, que no conflito com a “ministra” ganharíamos – e ganhámos. Agora há que ganhar defenestrando o próprio Sócrates. A razão é absolutamente simples: a dramática e estreiteza de horizontes que lhe é conatural não lhe permite ver praticamente nada. – E o nosso poder avantaja-se.

A questão, todavia, postula mais duas ou três sumaríssimas considerações, tão escasso o espaço é; e questões que são do próprio futuro Grei, Grei de que os professores são os cruciais pilares.

Em Manuela Ferreira Leite não se pode votar porque, se Sócrates é quem se sabe, os claros tiques tridentinos da senhora e as declarações e os serviços que fez enquanto “Ministra da Educação” são credenciais suficientes; Louçã é um demagogo, preocupado com a “justiça na Economia”, mas a quem convém ensinar que o dinheiro é espiritualidade; Jerónimo de Sousa é a concreção de um paradigma cujos resultados são conhecidos… Os meus profundos e reiterados contactos e viagens pela Europa são, especialmente, para estes dois últimos casos, lições inestimáveis. Em Portugal têm a votação que têm?! A urgência da Educação ainda não impregna a consciência nacional.

Resta Portas – e nele é que se deve votar. Não foi de um momento para o outro que o CDS apoiou os professores; mas, quando o fez, revelou uma guerra não menor que no caso do BPN. E, diz o povo, “o que está à vista escusa de candeia”.

Muito obrigado por me terdes lido.

Guarda, 14-IX-09

Por: J. A. Alves Ambrósio

Comentários dos nossos leitores
de todo o lado s@m.pt
Comentário:
“Muito obrigado por me terdes lido”. Este sr. pouco ou nada de jeito diz, todavia, e tendo eu tiques de autoflgelação, cá passei… Mas, defender que devemos votar “Portas” pra resolver o problema da Educação? Felizmente, vivemos num país onde todos têm direito à sua opinião, embora não pareça ao autor do texto! Cumprimentos!
 

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