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Ano de eleições

Quem chegue a Portugal vindo de longe e nada conheça sobre o país não demorará muito tempo a concluir que é ano de eleições. As obras e o anúncio de obras, os tapumes, os desvios em estradas e ruas, os andaimes, as gruas e betoneiras, multiplicam-se por todo o país. Um olhar mais atento permitirá concluir que boa parte das obras são apenas de embelezamento, uma espécie de lavagem rápida: muito aparato e pouca substância. Não admira, que o dinheiro disponível para investimento é agora pouco e boa parte das autarquias vê-se em dificuldades para assegurar até as despesas correntes mais banais. Mesmo assim, ninguém resiste ao cerimonial da tradição – se há eleições, há que mostrar obra!

Outras coisas foram acontecendo, mais ou menos discretamente. Por todo o país foram caindo os também tradicionais tabus e, mais discretamente ainda, foram feitas movimentações em relação à sucessão prevista em cada câmara em que haja uma possibilidade real de reeleição.

O problema da sucessão é já uma consequência do novo ciclo autárquico, com limitação de mandatos. No final do primeiro, o incumbente deverá pensar no seu futuro, daí a quatro anos, e no futuro da autarquia que irá necessariamente deixar. Não pode deixá-la a qualquer um, que venha a destruir ou desvalorizar o seu legado e prejudicar as suas hipóteses num outro sítio. Imagine-se o antigo presidente da Câmara de Seia, que agora vai concorrer à Guarda pelo PS, a ter na campanha não só de bater-se com Álvaro Amaro mas também com quem, em Seia, vindo de qualquer partido e mesmo do seu, para obter dividendos eleitorais venha a apontar cada uma das suas falhas. Veja-se por exemplo o que aconteceu na Madeira, onde o PSD, se quis sobreviver, teve de largar mão, e com estrondo, do jardinismo.

Quatro anos depois, no concelho da Guarda, há várias constatações e balanços a fazer. O PS local continua destruído, como se revela pela incapacidade de encontrar um candidato à Câmara nas suas fileiras. A sua agenda ou é inexistente, pela gritante falta de propostas e soluções para os problemas do concelho, ou é suspeita: a primeira notícia a nível nacional que motivou este ano, a questão da administração da ULS e a sua pressão para ser nomeado alguém da “família”, é típica do pior e mais requentado caciquismo. Numa questão tão grave como a do previsto corte de dezenas de árvores no parque da cidade e possível morte a prazo de centenas de outras por impermeabilização do solo, o que fez publicamente o PS? Veio colar-se a Álvaro Amaro, talvez em homenagem à sua política passada de “betonização” do concelho.

Entretanto, para quem não se contente com banhos de betão, rotundas e eventos, recordo que o Hotel Turismo continua encerrado, que continua a haver um problema grave de estacionamento no centro da cidade, que a Câmara Municipal da Guarda continua com um peso desproporcionado de funcionários em relação à população do concelho, que a agenda cultural, depois do afastamento de Américo Rodrigues, é inexistente, que a dívida do município é excessiva, como são excessivos os impostos que cobra em relação aos serviços que presta.

Por: António Ferreira

Comentários dos nossos leitores
Mike mikealfa@hotmail.com
Comentário:
Gatar e gastar inutilmente, mas o povo vai pagar caro este folclore.
 

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