O ano que agora começa fica marcado pelo chumbo unânime do Tribunal Constitucional na convergência de pensões da Caixa Geral de Aposentações e da Segurança Social. O (des)governo, ouvindo os recados de Merkel e Cª, apressou-se a tirar da cartola o seu plano B (em tudo idêntico ao A) ou em linguagem popular “pior a emenda que o soneto” (alargar a base de incidência da Contribuição Extraordinária de Solidariedade e aumentar significativamente a contribuição dos funcionários públicos para a ADSE).
Se este orçamento é uma vergonha descarada e declarada e um autêntico roubo aos portugueses, o país prepara-se para assistir ao pior dos piores anos, ditado por tiques e repeniques chico-espertos, mais ou menos autoritários, de quem não tem qualquer projeto definido, apostando na política do merceeiro, que de lápis atrás da orelha apenas sabe fazer lançamentos do deve e haver, aproveitando o conceito mercantilista e algo esquisito do “tio patinhas”, executado a preceito por alguns ratos mickey, patos donald e patetas, onde os princípios Fouchetianos servem tão só os interesses dos proxenetas da troika.
O nosso mundo é pequeno. Daí, os mesmos de sempre (armas, droga, petróleo, indústria farmacêutica, à mistura com os mais que (re)conhecidos especuladores capitalistas) resolveram desregular os mercados, criando, a proveito próprio, a crise, que efetivamente se instalou. Os governos tentaram justificar através de leis avulsas e da lei do orçamento, medidas restritivas a fim de estancar a crise e reduzir o deficit, realizando, para tanto, truques e habilidades da chamada engenharia financeira, numa verdadeira operação de cosmética, contestando o Estado Social, não realizando reformas de fundo, com o único objetivo, salvar o capitalismo decadente. Países, como o nosso, com uma economia extremamente débil e com gente notoriamente impreparada e sem qualquer tipo de projeto ou convicção, fizeram com que o pequeno retângulo esteja no estado em que está e que todos conhecemos e identificamos. Resultado: Dos 10 milhões de habitantes, 2 milhões são efetivamente pobres. 2 milhões vivem do salário mínimo ou perto dele ou estão desempregados. A emigração aumentou. Outros 2 milhões são reformados , a maioria com reformas abaixo do aceitável. Os 4 milhões que restam são diariamente bombardeados com medidas ordinárias e restritivas, o que faz com que a grande maioria assuma o conceito de novo-pobre, neste oásis de banqueiros, grandes empresários empertigados, de políticos ricos e novos ricos.
Os liberais, a começar por Ton Wilthagen, o tal que criou a ideia que o mundo do trabalho está cada vez mais instável devido à globalização, pois esta conduz a uma forte concorrência internacional, coloca nas mãos dos empresários mecanismos que possam despedir, ajudando e apoiando o Estado na procura de novo trabalho onde seja possível ao novo patrão contratar e ajustar preços, ficariam boquiabertos pois pouco ou mesmo nada iriam entender qual o projeto político ou o conceito em que assenta a governação destes “senhoritos”.
Dito isto, já todos percebemos que este vai ser o annus horribilis para a grande maioria dos portugueses, restando apenas afirmar que a diferença vai para o grande batalhão de políticos que mantêm vencimentos chorudos + subvenções + ajudas de custo + todo o tipo de alcavalas, neste pequenino quadradinho, onde se vendem como nunca casas e carros de luxo, grandes empresários a ganhar como nunca ganharam, um presidente (quase) inexistente, inconsistente e incoerente, uma segunda figura de Estado reformada ao quarenta e poucos anos, 230 deputados, 308 câmaras, 3.000 juntas de freguesia e ainda um enorme regimento de apêndices, apparatchiks e afins que gravitam na área do poder. Para estes, 2014, contrariando o aperto do cinto da grande maioria, continuará, (tal qual o foi 2013) a ser a sua coroa de glória. O seu annus mirabilis.
Contrastes, num país de contrastes…
Por: Albino Bárbara