A reunião da Câmara da Guarda de terça-feira ficou marcada por momentos de crispação entre Álvaro Amaro e o socialista Joaquim Carreira. Tudo por causa do relatório da auditoria externa e da nova marca do município.
Anteontem, os vereadores da oposição receberam o relatório global da auditoria externa às contas do município, segundo o qual a autarquia tem 91 milhões de euros de passivo. O documento foi entregue quatro semanas depois de ter sido apresentada uma síntese na Assembleia Municipal. Há quinze dias, Joaquim Carreira tinha pedido uma cópia, mas sem sucesso. Na altura, Álvaro Amaro justificou que a auditoria era «um instrumento de gestão e não de suspeição» e que apenas permitiria consultas presenciais na Câmara. «Só fornecerei cópia integral do relatório se a isso for obrigado por lei para salvaguardar a instituição e as pessoas que aqui trabalharam», acrescentou então, valendo-se do facto de um auditor da empresa Marques Cunha, Arlindo Duarte & Associados ter explicado algumas das conclusões na Assembleia Municipal de abril e da entrega aos deputados de um relatório síntese.
No período de antes da ordem do dia, Joaquim Carreira pediu a palavra para registar o momento e recordar que o presidente «sempre disse que só entregaria uma cópia à oposição se a isso fosse obrigado e foi o que aconteceu». O vereador referia-se a um pedido de «parecer informal» de Álvaro Amaro à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDRC), que recomendava a entrega dos documentos à oposição. O presidente exaltou-se com esta intervenção e ameaçou retirar a palavra ao eleito socialista, alegando que «mais transparência era impossível» neste caso. «Sempre disse que o relatório podia ser consultado e que daria uma cópia se a lei me obrigasse a tal, além do mais as principais conclusões foram apresentadas na Assembleia Municipal e foi entregue uma síntese da auditoria com o essencial», lembrou o autarca. No final da reunião, Joaquim Carreira acrescentou aos jornalistas que a maioria «não tinha o direito de não fornecer o relatório completo porque o documento foi pago com o dinheiro dos contribuintes e só com o conhecimento total do seu conteúdo é que o poderemos discutir com seriedade». Até porque «acreditamos que está empolgado nas contas com rubricas que não passavam de intenções de investimento», considerou.
Os ânimos voltaram a exaltar-se quando o vereador criticou a nova marca da Guarda, que disse ser uma «imagem infeliz, um símbolo sem alma, caráter ou identidade». E não se ficou por aqui: «É apenas uma composição cromática gratuita que dará para tudo, até para uma marca de congelados, podendo ainda ser a marca da Covilhã ou de Manteigas». Para Joaquim Carreira, que disse preferir o brasão ao cristal, «faltam os ícones de referência da cidade, como os F’s», pelo que, na sua opinião, o cristal será «um símbolo mais desta maioria PSD/CDS-PP». O presidente não gostou e acusou o vereador de «falta de respeito institucional» para com os guardenses e a Câmara. «O senhor é o porta-voz da esquina e do boicote ao que se quer fazer. São 40 anos de enquistamento, mas nós vamos fazer com o que cristal não cristalize e dê cor à Guarda», respondeu Álvaro Amaro, acrescentando que não há que confundir o brasão oficial do município e a marca. «São coisas totalmente diferentes», referiu o edil, para quem «nenhum município se projeta pela heráldica».