Angola é um país de contrastes, é um país difícil, para portugueses, estrangeiros ou angolanos, porque temos uma série de dificuldades e há uma série de situações que quem vive na Europa não tem a mínima noção que aqui ainda possam existir.
Angola não é um país fácil para quem vem de fora. Porém quem emigra e/ou venha para este país trabalhar, mesmo em situações pontuais, deve trazer na mala otimismo, vontade e não deve vir para fugir de um problema, pois aqui todos os dias são desafios.
Acaba por ser notável o que se conseguiu em pouco mais de dez anos de paz, mas eu nasci num tempo em que já não sabemos viver sem alguns luxos que se tornaram necessidades, não sei como é viver sem eletricidade, sem saneamento, sem água na torneira, sem… São estes contrastes que mais nos fazem crescer, pensar “como é possível?” Porém, quando olhamos à nossa volta percebemos o quanto este povo é feliz, e nós seriamos felizes desta forma? Poderemos pensar que este povo é feliz porque sempre viveu assim, contudo, a recente história do colonialismo mostra-nos o quanto estamos errados, pois foi em Angola que apareceram as primeiras calças de ganga, os primeiros perfumes, as primeiras casas de banho públicas com secadores de mão, enfim… As primeiras novidades que chegavam a Portugal vinham de Angola através dos portugueses que aqui viviam. Hoje, quase que a relação se inverteu, mas creio que não irá demorar mais de um ou dois anos para que se assista a um volte face.
É preciso reconhecer que houve uma transformação no país, talvez não com a velocidade desejada e nem com as prioridades estabelecidas, mas existiu uma transformação. Mas, num país em desenvolvimento, onde está tudo por fazer, sentir-se útil é gratificante. É verdade que existem poucos quadros com qualificação superior, é verdade que é necessário dar muita formação e executar tarefas de caráter básico; mas é verdade também que os desafios do dia a dia e dos projetos em que se participa, somando ao enriquecimento pessoal devido às interações e conhecimentos que se fazem, tornam os projetos aliciantes, cativantes, que permitem o desenvolvimento profissional e pessoal ao ritmo que se cresce em Angola.
As relações sociais são muito fortes e devido ao facto de existirem empresas de todo o mundo em Angola permite conhecer pessoas de todas as nacionalidades, trocar conhecimentos e partilhar ideias com alguns dos melhores profissionais num mundo globalizado. A abertura e simpatia das pessoas e o calor que permite conviver socialmente em espaços ao ar livre, com uma paisagem natural fantástica, faz com que chegar ao fim de semana e ir até à ilha de Luanda, estar na praia, tomar um café numa esplanada, com uma temperatura amena, é uma sensação de restauro do cansaço inigualável. Aqui, o encontro com outros estrangeiros é já quase familiar, “olá bom dia…, boa semana de trabalho…”. Médicos, professores, consultores, engenheiros… Poder conhecer pessoas de todas as nacionalidades e os melhores profissionais torna-nos pessoas com mais “empower”.
Considero os angolanos pessoas bastante afáveis e amáveis, sempre disponíveis a ajudar e bastante solidários, ainda este sábado, a caminho da ilha de Luanda, assisti à marcha de apoio ao Presidente que acabou por se transformar numa enorme saudação às dezenas de milhares de portugueses que vivem e trabalham no país.
É verdade que a justiça portuguesa entendeu investigar certas atividades de alguns altos dignatários do Governo angolano em Portugal, mas também é verdade que estes processos já deveriam ter terminado. A nossa justiça anda tão devagar – continuamos à espera da verdadeira “revolução” na justiça que todos os ministros apregoam quando chegam ao cargo, mas nunca chegam a concretizar. No entanto, não podemos confundir relações diplomáticas com o lento andamento da nossa justiça. O Governo não manda no Ministério Público, mas, no entanto, não pode esquecer-se dos cerca de 200 mil portugueses que aqui vivem, trabalham, contribuindo com o seu saber, não só para o desenvolvimento deste país, como também de Portugal, porque é para aqui que canalizam as suas economias.
Saiba Portugal ajudar sem julgar apenas. Aqui não há encontros com hora marcada.
Bem haja Angola, à solidariedade e ao fato de ser tão fácil ajudar quem de nós precisa.
Por: Cláudia Teixeira
* Militante do CDS/PP
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