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Anacronismos

Segundo notícias apenas agora reveladas, os submarinos comprados por Paulo Portas destinavam-se à participação portuguesa na primeira guerra mundial, “sendo particularmente adaptados às difíceis condições da costa da Flandres e do Mar do Norte em geral”. O atraso na aquisição e entrega dos vasos de guerra toma contornos anedóticos se nos recordarmos de que estamos actualmente em paz com a Alemanha e que os submarinos foram construídos por um consórcio alemão – de hábitos aparentemente ainda mais corruptos que os dos funcionários da primeira república que formalizaram a encomenda. Isto não é verdade? Não desanime o leitor, que os nossos políticos têm vindo a impingir-nos mentiras piores, com consequências bem mais graves e duradouras e para além disso, como se sabe, não se deve deixar a realidade dos factos intrometer-se na sequência de uma boa história. De resto, e para não agravar uma situação já de si bem má, torna-se aconselhável guardar os submarinos bem longe do Mar do Norte e de todos os interesses alemães em geral.

Este problema não é recente e tem antecentes ilustres e bem perto de nós, como a Sé da Guarda, começada a construir em celebração da vitória de Aljubarrota sobre os castelhanos e inaugurada, salvo exageros dificilmente verificáveis, já bem dentro do domínio filipino. Pode parecer que insisto em embaraços diplomáticos, possivelmente inventados de uma ponta à outra, mas há mais, também falsos, de certeza, como os blindados comprados para proteger chefes de estado numa cimeira da NATO que acabou no domingo e chegaram só na segunda-feira, já o perigo tinha passado – mas talvez venham a tempo de assegurar a protecção para a inauguração do Mosteiro dos Jerónimos, construídos para celebrar a entrada em funcionamento da Casa da Música, construída a propósito, mas também tarde de mais, da Expo 98, do Porto Capital Europeia da Cultura ou da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Quem se lembrar que atire a primeira pedra.

Por: António Ferreira

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