As seis maiores freguesias rurais do distrito da Guarda, num total de cerca de nove mil eleitores e 10.100 habitantes, ameaçam boicotar as eleições europeias se os CTT não desistirem até Junho da intenção de transferir os serviços postais para as Juntas, outras entidades ou mesmo particulares. O aviso resultou de uma reunião que juntou no último sábado em Gonçalo, os autarcas de Freches (Trancoso), Freixedas (Pinhel), Gonçalo (Guarda), Loriga, Paranhos da Beira e Vide (todos de Seia), que decidiram ainda não ratificar o protocolo celebrado entre os CTT e a ANAFRE – Associação Nacional de Freguesias, cuja posição neste processo foi sumariamente repudiada.
Os presentes apelaram também ao Governador Civil da Guarda para «clarificar» a sua posição sobre esta matéria e acordaram não emitir pareceres que ultimem a transferência do serviço para privados. Por outro lado, deliberaram solicitar audiências ao ministro da Economia, que tutela os Correios, e Presidente da República, tendo agendado para dia 20 um novo encontro, a realizar em Loriga, para o qual contam convidar os respectivos presidentes de Câmara. Conclusões unânimes entre os seis presidentes de Junta presentes em Gonçalo, que exigem apenas a continuidade das estações de correios nas suas localidades e a manutenção dos serviços prestados às populações. «Não aceitamos outro desfecho. Representamos as maiores freguesias rurais do distrito e isso dá-nos o direito de negociar com os CTT a manutenção das estações», refere Pedro Pires, presidente da Junta de Gonçalo. «Lutámos há uns anos atrás e continuaremos a lutar», acrescenta João Dias, autarca de Vide, para quem o protocolo da ANAFRE é um «atentado contra as populações» e por isso «nem merece ser lido».
Segundo Armando Santos, edil de Paranhos da Beira, a maior freguesia rural do distrito com dois mil habitantes e cuja estação de correios serve uma população próxima das sete mil pessoas, o que está em causa é o regresso ao passado: «Há quarenta anos atrás, era na tasca que íamos buscar o correio. Parece que no século XXI nos querem fazer voltar atrás», acusa. O autarca garante que a população da sua freguesia está «satisfeita» com o serviço prestado e não quer perder «de maneira nenhuma» o horário nem o serviço ali disponibilizado. E avisa desde já que em Paranhos não há nenhuma entidade capaz de assegurar o serviço e que ninguém vai aceitar essa responsabilidade: «O que acho muito bem, pois é um serviço público e não é numa tasca que se vão pagar reformas ou outras coisas», argumenta, exigindo que o Governo mantenha o serviço «tal e qual como está». Pedro Pires, da Junta de Gonçalo, subscreve e assina por cima: «Faremos tudo para que as estações continuem abertas tal como estão», avisa, invocando nomeadamente a falta de recursos humanos das Juntas para assumir o serviço postal.
«Não temos recursos humanos, que já são insuficientes para dar conta do nosso expediente e competências, além do problema, muito mais grave, do profissionalismo, da formação e da qualidade de serviço. Por isso, nós não conseguimos garantir um serviço de qualidade», invoca, receando que as Juntas de Freguesia possam ser um «balão para tudo» ao recordar o que se tem passado com as instalações da GNR e agora os CTT. «Quem já está penalizado continua a ser discriminadamente penalizado. Só somos lembrados nas obrigações», conclui a presidente da Assembleia de Freguesia gonçalense.