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Amar pelos dois

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Se tu me amares e eu não, amas por nós. Se eu te quiser e tu não, a rejeição dói por dois. Amar é um processo egoísta – é só meu – mas envolve outro. Dor é tão egoísta como amor. Tudo cá dentro, só para mim, só meu, mas vale para nós. Claro que se me amar a mim só, sou narciso, sou flor do chão. Os dois, para ser amor correspondido, devem amar para o mesmo lado. Noutros amores há traição, há conspiração, há tramas e facas e alguidares e choros profusos. Amar estar dentro doutro, porque outro quer… é sexo. Mas amar alguém que não, é dor e desencanto. Amar pelos dois é já sofrimento, um compasso de espera, até que a conquista ganhe. Esta noção de amor recíproco é festa. Amar quem te ama! Mas amar pelos dois é porque um não ama. Pode ser desatino e dor. E se amas e queres, é posse. Aqui nasce o ciúme que é inflamação no amor. Ciúme transporta rubor, calor e dor. Depois do ciúme não há dois, só um que persegue, exige, vigia, maltrata e destrói. Amar bem é amar alguém e ser amado também, se possível pelos mesmos dois. Amar aquele e ser amado por outro é mais complexo. Amar pelos dois é amor demais. Pode ser lindo, dar livros de sonetos, intermináveis versos, histórias de fome e sofrimento, mas sereno não é. Não sei se me faço entender!

Por: Diogo Cabrita

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