Linhares da Beira está em vias de perder a exclusividade da prática do parapente na região. A Aldeia Histórica é a referência mais antiga para todos os praticantes da modalidade em Portugal, mas dois novos locais de cortar a respiração sobre o vale do Zêzere, nos concelhos de Manteigas e Covilhã, poderão pôr fim ao monopólio da vila medieval e acolher ainda este ano uma competição nacional. Assim espera Vítor Baía, responsável pela escola de parapente do Inatel e seleccionador nacional, que já testou as vantagens proporcionadas pelo lugar da Azinha (Vale de Amoreira) e da serra do Sarzedo (Covilhã) nos últimos dois meses.
A concretizar-se esta descoberta, a Serra da Estrela pode tornar-se imprescindível para a prática do parapente em Portugal, disponibilizando duas zonas complementares de voo. É que Linhares da Beira proporciona excelentes condições para a aprendizagem, enquanto o Vale do Zêzere será um local de maior exigência técnica cujas características e condições atmosféricas permitem a prática de voo de montanha, «muito parecido com o praticado nos Alpes e que exige pilotos mais qualificados», refere Vítor Baía, que no último fim-de-semana orientou o primeiro estágio da selecção nacional [que integra um piloto da Guarda, Paulo Coelho] naquela zona. «Infelizmente, o vento não nos deixou voar, mas todos ficaram com vontade de regressar para experimentar as potencialidades desta zona», garante o seleccionador. É que tanto a Azinha como o Sarzedo oferecem condições únicas de voo ao possibilitarem saltos em duas direcções, uma vantagem determinante em relação a Linhares onde a modalidade fica limitada a apenas um “corredor”. «O Vale do Zêzere tem nestes locais todas as direcções de vento e excelentes correntes térmicas, o que quer dizer que há aqui muito potencial para se tornar a “Meca” do parapente em Portugal», adianta Vítor Baía, para quem a Azinha será um dos melhores locais do país para a competição. «Isto é um autêntico elevador, mesmo no Inverno», diz quem já efectuou 30 saltos nos últimos dois meses na Azinha e Sarzedo e conta com outras tantas «surpresas agradáveis».
Nesta fase, o parapentista tem tido a colaboração das Juntas de Freguesia destas duas localidades serranas no arranjo das estruturas de voo, como os caminhos de acesso aos locais de descolagem e a disponibilização de zonas de aterragem, facilitada pelo autarca do Sarzedo. Uma ajuda «fundamental» para radicar a modalidade neste lado da Serra que tem ainda o condão de dispor de inúmeras infraestruturas de apoio já consolidadas. São os parques de campismo de Valhelhas, Sameiro e Verdelhos, os vários restaurantes e pensões existentes na área, o Skiparque e sobretudo os acessos rodoviários, na medida em que a A23 fica a meia hora de distância. Por isso, Vítor Baía já fala na realização de uma prova nacional este ano e na possibilidade de uma competição internacional em 2005: «Até agora, tudo se conjuga para conseguirmos promover esses eventos de parapente no Vale do Zêzere, só falta mesmo conhecer a disponibilidade das Câmaras Municipais em apoiá-los. Acho que chegou o momento de todos se unirem e lutarem por um objectivo comum em vez de puxarem cada um para si. Só assim poderemos ter aqui a tal “Meca” do parapente e uma nova possibilidade de desenvolvimento», adianta. Um desabafo que faz sentido para evitar, na sua opinião, o que aconteceu em Linhares da Beira, onde se fez «muito pouco» para o crescimento e aproveitamento do parapente. «Não há dúvida que já é um sítio consolidado, só que não podem esperar que sejamos os corretores de restaurantes, cafés e outras coisas que tais. Tudo isso é ditado pela lei do mercado e a iniciativa. É incrível como nenhum restaurante soube singrar em Linhares», lamenta Vítor Baía, constatando que nem as condições atmosféricas têm ajudado a Aldeia Histórica nas últimas edições do tradicional “Open”, uma vez que as respectivas mangas competitivas foram «quase todas» realizadas deste lado da Serra.
Luis Martins